Dia 43

1. Há dias em que acho que nada faz sentido, que detesto dar aulas online, que não estou a ensinar nada, que não estou a aprender nada também, que sou má mãe e má esposa, que não ligo a ninguém, que já chega de isolamento social, que me quero rir com os meus colegas, que aquela reunião de amigos às 18h, às sextas no zoom e com um copo na mão não basta, que está tudo desarrumado e que aquele chão pá, filho da mãe, está sempre sujo. 
"Deixa-me beber para esquecer" é o leme desses dias de neura.

2. Há dias em que acho que olha, é a vida, o que havemos de fazer? Estamos aqui e aqui temos de estar e bola baixa que tenho é muita sorte, um emprego com ordenado certo, em tempo de Covid quase que parece um privilégio. Basta olhar para o pai cá de casa e nem me estou a queixar disso que temos é muita sorte. O pior é o chão sujo verdade seja dita, mas também é de ter em conta que somos 4 + 2 gatos. 
"Haja vinho" é o leme desses dias de sujeição.

3. Há dias em que acho que é fixe estar em casa, desliga-se o PC e estica-se as pernas no sofá no minuto seguinte, que espetáculo; comes as refeições todas em família e divertes-te, até porque sabes que não tarda nada e só nos querem ver pelas costas. Nesses dias, até era capaz de dar aulas online durante muito e muito tempo, quiça para sempre, porque, estando a sair da minha zona de conforto, até faço coisas engraçadas com eles e eles demonstram-no. Não fosse o chão e era gaja para romantizar a época do Covid. 
"Vou celebrar o dia com um copo de vinho" é o lemes desses dias bem-sucedidos.


Hoje estamos na fase 3. 


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