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A mostrar mensagens de agosto, 2023

Das férias

As férias, as verdadeiras, aquelas que me dão energia para um ano de trabalho, acabaram no dia em que deixámos a ilha, no dia 12. Foi tudo o que sempre é. Momentos verdadeiramente bons que gravei na memória e que o tempo baralhará, de certeza. "Foi antes do covid ou depois, perguntarei, que  jogámos ao zeroinho ou um". Deitada ao sol, com protetor solar, mas nem sempre de chapéu e sentindo que o sol está a marcar mais uns vincos no meu rosto. Serão no futuro um grande arrependimento, mas no momento, há um desligamento tão grande com a vida fora dali, que nem isso me ocorre. As manchas crescem, as rugas provocadas pelo sol também, mas são uma tatuagem de tempos absolutamente únicos. A ilha é pacifista com tudo. O tempo pausa e tu respiras à margem de tudo e de todos. Cada um faz o que quer, menos os meus filhos quando os obriguei a ler diariamente, claro. Os outros dias foram divididos em vários sítios, ora a 4, ora a 4-1, que o Pedro já tem mais do que fazer de que estar semp

Livro 40 - "As primas"

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 " As primas" - Aurora Venturini Livro com boa cotação e bastante aclamado, mas eu não o apreciei muito.  É um livro com mulheres abandonadas, violentadas, alheadas e deficientes e onde os poucos homens que aparecem são quase sempre predadores.  A voz da Yuna narra a sua história e simultaneamente a da irmã e a das primas. A voz dela, sempre presente, sempre a falar, por vezes a repetir-se, sem pausas cansou-me. Por vezes também me aborreceu. Ficou muito aquém da expetativa.    3 estrelas. 

Livro.39 - "Amor Estragado"

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 "Amor Estragado" - Ana Bárbara Pedrosa Tenho lido críticas muito boas sobre o livro e quis ver se tinham razão. E têm.  Este livro trata de uma história dramática de uma família de 4 irmãos, em Vizela. A história é contada por dois deles. É um livro duro, com uma linguagem também ela dura e crua, mas fluida. Nesse livro, temos os sentimentos que unem e separam as famílias: desgostos, inveja, amor, proteção, amparo, vergonha... O livro tem por base violência doméstica (aliás o livro começa com "matei a minha mulher" , um pouco ao género da "Canção Doce" da Leila Slimani) e alcoolismo.  Houve momentos em que tive de desviar os olhos e pousar o kobo para respirar, tanto aquilo me afligiu, mas continuei sempre a leitura sem parar porque o livro é muito muito bom. Lê-se de uma só vez. 5 estrelas e altamente recomendado. 

Quando é que sabes que tens filhos crescidos?

Quando estamos todos na mesma praia, mas um deles está muito longe de nós, para poder estar com a namorada... Quando estás na festa da aldeia e te apercebes que os teus dois filhos estão a beber álcool às escondidas, atrás da capela, com a grupeta toda...

Livro 38 - "Olhai os Lírios do Campo"

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 "Olhai os Lírios do Campo" - Érico Veríssimo Quando estava a ler "O Continente ", um pai de um ex-aluno viu-me a sair do colégio com o livro na mão. Abordou-me para falar do Veríssimo e aconselhou-me este "Olhai os Lírios do Campo". É a história de um jovem humilde, que consegue formar-se em medicina e que casa com uma mulher rica para ter a posição social que sempre ambicionou.  Dito assim, soa a cliché e parece pouco interessante, mas não, é um livro muito bom. O autor consegue revelar o que vai dentro da alma das personagens. Identificamo-nos nalguns momentos com elas : o bem, o mal, a cobardia, o sonho desejado, a humilhação, as decisões tomadas, o "e se eu tivesse feito outras escolhas?"  O livro é sobre aquilo que realmente importa: a felicidade que está nas pequenas coisas e no bem que se faz. Gostei muito e dou-lhe 5 estrelas porque sou fã do escritor, mas sei que é um 4,5. 

Aida em tempos de Festa

Quando alguém próximo da família ficava doente ao ponto de ser internada, a Aida dizia sempre "só espero que não morra para não nos estragar a Festa." Há uns anos, antes do covid, foi internada. Disse-me "só espero morrer depois da Festa". A Festa da aldeia, em honra da Santa cá do sítio, é um acontecimento. Para ela, era mais importante que o Natal.  Em miúda, era quando o meu avô matava o borrego para a chanfana. Era quando via o meu pai muito feliz por regressar a Portugal para a Festa. Era quando o meu avô dava a cada neto 100 escudos (aquela nota do Pessoa) para comprar rifas depois da procissão. Era quando se comia pão de ló com queijo em família às tantas da madrugada, depois de ouvir o concerto de Marco Paulo ou Clemente. Era quando a minha avó fazia broa no forno e fazia uma pequena para comermos ainda quente com manteiga. Era quando a Aida, cansada por ter a casa cheia, ficava feliz. "Só espero que ninguém morra para não nos estragar a festa". No

Livro 37 - "As Intermitências da Morte"

 "As intermitências da Morte" - José Saramago Na ilha, falámos sobre Saramago e constatei que não tinha lido alguns livros dele. Comecei por este. "No dia seguinte, ninguém morreu." A  partir daí,  o autor conta-nos, com uma subtil ironia,  a história de um país onde a morte desapareceu e uma história com a morte personificada.  5 estrelas. 

Livro 36 - "A Biblioteca da Meia-Noite"

 "A Biblioteca da Meia-Noite" - Matt Haig Livro muito bem cotado, mas revelou-se uma desilusão.  É a história de uma mulher que decide por fim à vida. Quando está entre a vida e a morte, entra numa biblioteca que lhe permite viver várias vidas possíveis se tivesse feita outras escolhas.  É um livro comum e previsível, com uma linguagem pobre. Pareceu-me um livro de auto-ajuda disfarçado de romance.  É daqueles livros que não me acrescentou grande coisa e que me fez questionar "Isto é literatura? O que é a literatura?". Dei-lhe 3 estrelas, mas são 2,5.   Edit: um dia depois, passei a nota para 2.

Livro 35 - "Três Mulheres no Beiral"

 "Três Mulheres no Beiral" - Susana Piedade Trouxe o livro de férias seguindo dois criterios importantes: uma escritora e ainda por cima  portuguesa e ser uma finalista do prémio Leya. Sou uma Maria vai com todos no que aos prémios diz respeito... ( Num grupo de leitura do FB, diziam bem do livro, mas verdade seja dita, num grupo com 30 mil pessoas, há gostos para tudo...) É um livro sobre  uma mulher de 80 anos-  Piedade -  e da sua família. A avó Piedade vive na baixa portuense, numa casa já velha, mas cheia de recordações e de saudades. Abriga  dores e alegrias. Vamos descobrindo aos poucos a história da familia.  " Um lar, no verdadeira sentido da palavra, nao se fazia de pedra e cal, mas de amor, pessoas, historias e lembranças que lhe davam sentido e se tornaram as fundações mais importantes (...). " O livro é triste, mas muito bonito. A escrita é poética, sem ser rebuscada ou pretensiosa. É um livro comovente.  Recomendo a leitura. Vale muito a pena.  5 estre

Livro 34 - Stoner"

 "Stoner" - John Williams Estive para desistir do livro por volta da página 70. Troquei-o pelas "Cinzas de Ângela", mas como não estava a entrar na história, voltei ao projeto inicial.  "Stoner" é um livro lento, contido quase ao nivel das emoções e das palavras, que narra a história de vida de William Stoner. Filho de pais agricultores, vai para a universidade onde se apaixona pela literatura. Tornar-se-á, nessa mesma universidade,  professor de estudos literários. O livro é contido porque nos mostra a vida infeliz do Stoner , da sua inercia e passividade perante os outros e o mundo que o rodeia. Satisfaz-se com o que tem: uma vida triste, com uma mulher que lhe rouba pouco a pouco espaço,  identidade, e bem-estar e com o meio académico de intrigas. O livro é isso, mas a complexidade psicológica das personagens e o modo como o livro é contado que faz dele, ao meu ver, um muito bom livro.  5 estrelas, mas são 4,5.

Livro 33 - " Afirma Pereira"

 "Afirma Pereira" - António Tabucchi Há livros que vamos adiando sem saber bem a razão. Este foi um deles. Tenho-o em casa há pelo menos 20 anos. Comprei-o quando foi publicado pelo Público: a coleção mil folhas.  Depois de ouvir já não sei quem a falar do livro no podcast "Vale a Pena", fiquei com vontade de o ler. Trouxe a versão digital comigo nas férias. A história decorre em 1938 em Lisboa. Pereira é responsável pela página cultural de um jornal e está alheado do contexto político de Portugal e do resto da Europa. Homem só, sem amigos, colegas e família, conhece um jovem que o faz mudar aos poucos ... O Pereira é simplesmente maravilhoso. Nutri por ele um carinho muito grande. Tocou-me a sua sensibilidade e a sua simpatia. A história e a evolução da personagem conquistaram-me, mas o processo de escrita não lhe fica atrás. Tudo por causa de uma escrita limpa, simples e da utilização constante do verbo afirmar.  É um livro simples altamente recomendado.  5 estrel

Livro 32 - "Niketche - Uma História de Poligamia"

 "Niketche - Uma História de Poligamia" - Paulina Chiziane Há dias, lembrei-me desta autora, que nunca tinha lido apesar de já ter ganho o Prémio Camões. Decidi então trazê-la comigo nas férias.  Neste livro, Rami, a personagem principal, descobre que o marido tem várias mulheres e vários filhos. A partir dessa descoberta, tece um conjunto de reflexões sobre a condição da mulher moçambicana, que está fortemente ligada às tradições e convenções de uma sociedade patriarcal. À luz da sociedade europeia,  fiquei frequentemente perplexa com o que li, mas encantada com o lirismo da escrita. O livro é poesia pura, mmas peca por ser demasiado repetitivo.  4 estrelas. 

Livro 31 - "No jardim do Ogre"

 "No Jardim do Ogre" -Leila Slimani Que livro!  A personagem principal, Adèle, é escrava do seu impulso sexual. É uma compulsão que se sobrepõe à maternidade e ao seu matrimónio. É uma espécie de Madame Bovary. Na verdade, este livro é sobre a solidão. A Leila Slimani consegue pôr no papel a ânsia, a fraqueza de um vício e a solidão de uma mulher como ninguém. Tudo é palpável. O melhor livro dela que já li. 5 estrelas.