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A mostrar mensagens de março, 2022
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Ontem juntámo-nos e fomos dizer definitivamente adeus à minha amiga. Cumprimos a sua última vontade e fomos colocar as cinzas num sítio que lhe era muito especial. Ontem foi ainda mais palpável a nossa finitude. "Do pó vieste e ao pó voltarás" ou algo parecido. Foi triste, obviamente, mas foi um momento perfeito. Ainda pensei que era uma pena ela não estar cá para ver e dizer-me "Baby, é mesmo isso que eu queria". Saí de coração cheio, numa espécie de sentimento que passa também pelo dever cumprido.  Ficam agora as recordações e as memórias.

Quando sabes que não vais para nova?

 Quando te nascem pêlos no queixo e são brancos.  Fdx*! * (Ya, uma tentativa de não parecer tão velha!)

Livro 12 - "Um tempo a fingir"

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"Um tempo a Fingir" - João Pinto Coelho Depois de ler "Perguntem à Sarah Gross" e "Os Loucos da Rua Mazur" e de ter gostado muito, resolvi trazer o último do João Pinto Coelho.  O contexto:  Annina é uma jovem judia rebelde, que vive na Toscano, na Itália. O Duce está no poder e os fascistas estão em todo o lado. O livro é contado, inicialmente a duas vozes e em dois tempos diferentes: a Annina entre 1937 e 1943 e a do irmão em 1952. O contexto da 2a guerra mundial e da descriminação racial é acessório, um mero cenário. Não é o tema central do livro, embora a capa (foleira, by the way) e resumo digam o contrário. Fala-nos então de quê? Da Annina, da sua rebeldia, dos seus sonhos violenta e terrivelmente perdidos e do sentimento de vingança que a faz continuar a viver.  Para mim, as personagens são o problema.  Não gostei delas. Parecem inverossímeis. No entanto, a história é bem contada e assim fui lendo porque queria saber o desfecho. Houve ali uns twists

Relato da bola- do futsal IV

Dizimados. Fomos dizimados pelo Benfica, que entrou em campo com a artilharia toda, ou seja, com a equipa A, que disputa outra série do campeonato. É justo ? Não. A equipa B, que jogou connosco em casa e que está nesta série/campeonato, ficou em casa. É justo? Não. Enfim, os grandes podem fazer o que querem. Só interessa ganhar, custe o que custar. É o que é. Avante. Fomos dizimados. Os vermelhos jogaram muito, muito mesmo. Os nossos perderam logo a cabeça ao minuto 3. Perdemos 9-0. O Benfica a ser Benfica e nós, que sonhámos com a Vitória, nem um golo marcámos. Foi duro. Ouvi o  meu coração a galopar ao ver as bolas a entrarem na baliza do meu rapaz. Defendeu muitas, é verdade, assim como os colegas , mas fica apenas o resultado : 9-0.  O meu guarda-redes preferido está introspectivo,  sem fala, na bolha dele e lixado com o mundo inteiro. Ainda não digeriu o golpe na auto-estima. Antes de entrar no pavilhão , disse-lhe "Sabes o que não passará enquanto cá estivermos? A extrema-di

Do futsal III

Por aqui, reforçam-se os hidratos de carbono, afinam-se as vozes, faz-se conversas positivas numa espécie de coaching , que amanhã o meu guarda-redes preferido vai defrontar o Benfica , no pavilhão deles, lá na Luz.  Se ganharmos (sim, ousamos pensar numa vitória), ficamos em primeiro lugar e corremos o risco de ganhar o campeonato.  Têm noção da importância do futsal na auto-estima do meu mais novo, que toda a vida viveu na sombra do mano? Têm noção da importância do grupo desportivo (atletas e equipa técnica) e da sua união no crescimento interior do meu filho?  Dava para fazer um post, mas já muita gente falou do desporto como motor do bem-estar físico e emocional e eu seria só mais uma. Mas garanto que tenho um filho completamente diferente desde que assumiu os comandos de uma baliza, naquele clube.

Quando é que sabem que estou a procrastinar?

Quando escrevo três posts sem grande interesse em menos de 60 minutos.  ("Tella Marie, larga a blogosfera, onde quase ninguém está, que tens 9 turmas para corrigir!" - diz aquela voz. Aquela [e fiz o gesto de aspas na minha cabeça enquanto digitei a palavra] voz, recordam-se?)

Quando é que sabes que não vais para nova?

Quando comentas com a cunhada que tens saído às sextas à noite com o pai cá de casa, tipo date , folia e o camandro, mas te apercebes, ao falares, que chegaste à casa sempre antes das 23h30 (e os miúdos ainda estavam acordados...). 

Sentimento do momento

Farta da guerra, dos horrores da guerra, das imagens em catadupa da guerra, das pessoas que escrevem banalidades sobre a guerra e até farta de mim, neste momento, por estar a falar da guerra de uma forma banal.  Quem está comigo?

Livro 11 - "Atos Humanos"

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 "Atos Humanos "  - Han Kang Requisitei o livro porque a irmã da MaryQA fez uma review que me despertou a curiosidade e que deixou as minhas expetativas altas. O livro conta o relato de uma massacre ocorrido na Correia do sul, nos anos 80. São várias as vozes, em tempos diferentes, que vão narrando a história. Falam do sofrimento de quem é torturado, da vida de quem sobreviveu mas morreu nesse dia, da dor da mãe que perdeu o filho, da alma de quem morre, dos corpos que apodrecem e das famílias que buscam os corpos. Fala de atos humanos desconcertantes. Tal como o outro livro que tinha lido há uns tempos da mesma autora, este deixa-me sem saber o que dizer. É desconcertante. Só me ocorre este adjetivo. Dei-lhe 4 estrelas mas podem ser 5. Estou a escrever agora, mas ainda não digeri o livro nem o lirismo de algumas passagens. "Há memórias que nunca saíram. Em vez de se esbaterem com a passagem do tempo, essas recordações tornam-se a única coisa que sobra quando tudo o res

Relato da bola - do futsal (II)

O meu mais novo jogou na semana passada contra o Sporting. Ao contrário dos outros jogos contra os grandes, achávamos (pais, equipa técnica e jogadores) que era capaz de correr bem. Tínhamos empatado com o Benfica, andámos a ganhar sempre e a auto-estima faz-se dessas pequenas coisas no desporto (e na vida). Foram, convencidos do que era capaz de dar certo, mesmo sabendo que o Sporting tinha convocado a equipa A, quando neste campeonato, joga sempre com a B. Só isso foi uma honra, diga-se.  O Pedro partilhou a sua baliza com o colega de equipa. Estiveram a perder por 4-1 e aos poucos foram marcando e marcando. O Pedro esteve sempre bem. Sofreu apenas uma bola indefensável na perspetiva de mãe,  que poderá ser inquinada, não digo que não.   4-2, 4-3,  5-3,  5-4  e as nossas bolas batem na trave, no poste ou no guarda-redes adversário. Acreditamos todos, pais e miúdos. No último minuto, o meu guarda-redes preferido sai da baliza com a bola, com vontade de comer este mundo e o outro. Que

Livro 10 - "Pão Seco"

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 "Pão Seco "- Muhammed Chukri Ouvi falar do livro no jornal Público, no ano passado, onde se dizia que finalmente este livro tinha sido traduzido em português. (O livro foi publicado em 1973.) Foi depois disso recomendado por alguns escritores que sigo nas redes sociais, sendo que um disse que era a melhor coisa que tinha sido editada em 2021. Fiquei curiosa. É o relato autobiográfica do autor (marroquino) que começa quando tinha 6 anos, durante uma época de fome, até a idade dos 20 anos, momento em que decide aprender a ler e a escrever. Relata sem pudor, sem floreados ou poesia, cenas de sexo e de alcoolismo, para onde se refugia para esquecer um céu nu, e de violência, onde o pai encarna a figura mais violenta do livro e com quem terá uma relação de ódio visceral, sem nenhuma tentativa de perceber a maldade dele através da miséria. É assim porque sim.  Com o livro, ficamos a conhecer a sociedade marroquina, nos anos 30 e 40, do século XX: a ignorância, a misoginia, a prost

Ideias

Uma amiga do meu mais velho fez anos ontem. Amanhã irão almoçar juntos. Como prenda de anos, pediu que cada colega convidado fizesse uma transferência para a Unicef em troca da prenda e almoço! Enviou o link. Todos fizeram uma transferência de 15 euros. Os 5 miúdos acertaram a quantia e está feito. É fazer as contas e sorrir com a iniciativa dela. 

A dúvida

A guerra começou e entra-nos pela casa adentro. Vejo aquelas imagens incapaz de desligar a televisão ou a rádio. Sinto-me impotente e parece que estou a trair quem está a sofrer tanto se desligar a TV . Doar medicamentos, pensos higiénicos ou tampões e powerbank não aligeira o sentimento, mas espero que ajude quem precise.  Há uma pergunta que não me sai da cabeça: como se reduz uma vida a uma mala? O que se traz? O que se escolhe?  O nosso mundo nos nossos filhos e as nossas vidas numa mala.  Que mundo tão insano!

Livro 9 - "As longas noites de Caxias"

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 "As Longas Noites de Caxias"  - Ana Cristina Silva. O livro foi -me oferecido pela Carolina antes da sua partida. Já me tinha falado dele em Agosto, tendo-me dito que tinha a minha cara. Acertou em cheio.  É a história de uma mulher presa pela Pide. É encarcerada na prisão de Caxias onde sofre terríveis torturas. Uma das agentes da Pide é a Maria Helena, que sente um verdadeiro prazer em torturar física e psicologicamente os presos. O livro avança e recua no tempo para percebermos como aquelas duas mulheres chegaram ali e assim, tão antagónicas: uma é sobretudo determinada e a outra está desumanizada. As tramas psicológicas e a forma como o medo é palpável deixaram-me rendida.   Gostei muito do livro, escrito sem floreados. Li-o em dois dias, em tensão quase. Dei-lhe 4,5 e recomendo a leitura.  (Já tinha lido um bom  livro da autora em 2019.)