Dia 42

O meu avô materno foi o homem que me iniciou nas cartas. Com ele aprendi  a jogar à bisca, às orelhas e à batalha. Falou-me da sueca mas nunca jogávamos porque éramos só 3. 
o disse há uns tempos, raramente estava em casa mas quando estava, jogávamos durante horas às cartas. Ele era batoteiro e ria-se sempre muito quando o fazia. Era das poucas vezes em que a minha avó também se ria com ele. A minha avó esquecia tudo quando éramos os 3  a jogar e a rir, no meio de muitos palavrões da minha avó, típica mulher do Norte. "Ó foda-se" ou " Filho da punha" como ela dizia. Puta era só para a outra.
Ele fazia mil truques de magia com as cartas. Ficava fascinada com aquilo e quis sempre que ele me dissesse como o fazia. Nunca o fez. Enganava-me com contas que eu nem entendia e fazia-me crer que era uma coisa de números e de magia. Ria-se da minha ingenuidade. Eu ria-me também mas às vezes ficava aborrecida por não entender como.
Hoje e somente hoje é que me lembrei dos truques do avô Monteiro. Foi delicioso. Fiz aos meus filhos as mesmas rasteiras que ele me fez. Ri-me com os miúdos como ele se riu comigo. Enganei os dois ao ponto do Tiago dizer "ah, já sei, calculas a raiz quadrada do número para adivinhar a carta". Como se eu eu fosse capaz de tal coisa! O Pedro amuou como eu amuei quando ele não me revelou os truques. 
Hoje, dia 42, senti que tinha 7 ou 8 anos e estive com o meu avô no coração.

[E assim evitei jogar à sueca e perder outra vez. O resultado está 8-2, insolentes. ]

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