Dia 40

Cheguei ao meu quadragésimo dia de isolamento social. 
No dia 1, acreditei que iríamos retomar as nossas vidas dentro de 15 dias, que estaria a iniciar o terceiro período na escola e a perspetiva de ficar uns dias em casa era encarada como positivo. Pensei que ia correr todos os dias, que ia dar uma volta às coisas cá de casa, que ia ler mais, que ia ver mais filmes e que íamos estar sempre felizes e contentes. 
Não podia estar mais enganada. Percebe-se que os oráculos não são uma ciência que domino. Errei em todas as frentes.
O tempo passou rápido ou devagar? Não sei. A sucessão de dias quase todos iguais dificulta a resposta.
Arrependo-me não ter ido para a aldeia antes do estado de emergência. Teria sido mais saudável para todos, pois há uma eira, uma horta, um páteo. Fechados num apartamento sem varanda, tornamo-nos mais cinzentos e aborrecemo-nos mais rapidamente connosco e com os outros.
Estou quase a acabar o isolamento, por decreto próprio de mim para mim. A partir de amanhã, dia da Liberdade, tentarei retomar a minha normalidade, com máscara e com o devido distanciamento. Irei correr, comprar um cravo não sei onde e apanhar sol. Vou tentar levar os filhos comigo. Precisam de apanhar ar. Em 40 dias, saíram uma vez, 10 minutos, para andar à volta do prédio. 



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