Eu faço com cada filme...
Ontem, fui a Lisboa ter com a minha amiga C. Como a loja dela fica no Areeiro, resolvi ir de comboio. Na plataforma, ouço uma mulher dizer "vou ver o bebé" e pede se pode espreitar. Ela começa a falar com ele, a perguntar pelo nome, pela idade e tece imensos elogios ao meu rebento. Já sabem que nessas situações, fico toda babada.
A senhora tinha uma voz melosa, óculos da Dior e dois pormenores que me prenderam a atenção: um baton rosa choque que ultrapassava os limites dos lábios e o os pelos do buço a rebentar. Sabem aquela coisa que nos prende e para onde não queremos olhar mas para onde cai sempre o nosso olhar? aconteceu isso. Mas adiante.
Pergunta-me se vou para Lisboa e responde-lhe que sim, que vou ver uma amiga. Viro-me para o Tiago e digo-lhe "né 'mor, vamos ver a tia C." A dita diz-me "então, mas vai ver uma amiga ou uma tia dele?" Pensei logo "então mas essa está parva!" mas lá lhe expliquei (só eu mesmo) que as amigas são todas tias dele. la lá me diz que vai para Alvalade, ao psiquiatra, que eu sou uma sortuda porque não vou para lá. Começo a ficar em alerta e a agarrar o carrinho com força. Não sei bem porquê, se calhar pela maneira como falava com o meu bebé. Pergunta-me se o Tiago é o meu primeiro filho e depois diz-me "pois ainda é nova" e à questão "é bom ter um filho?", reponde-lhe que sim, que é a melhor coisa do mundo e que o Tiago é uma bênção. Olha-me assim de frente e diz: "nunca tive filhos, não sei o que é. Não os arranjo com 50 anos. Quando podia, não encontrei a pessoa certa. Sou seca e fria por dentro." Imediatamente, veio-me à cabeça a imagem da Nazaré da novela Senhora do destino e, assustada, fiz o filme: "ela quer levar-me o Tiago". O coração até começou a bater mais rápido. Chega o comboio e ela colada a mim e ao carrinho, a dizer "o Tiago parece gostar de mim, gosta, gosta". Eu a olhar em redor e ver a quem podia pedir ajuda, se necessário. Ficou ao meu lado, em pé quando havia muitos lugares para se sentar. Resolvi então tapar o Tiago e viramo-nos de costas para ela. Ela acatou e foi para outro sítio.
Sempre que o comboio parou, fiquei com medo de a ver. A sério. Não consigo explicar o pavor que senti quando meti na minha cabeça que ela talvez quisesse levar o Tiago. Até me doía as mãos de segurar o carrinho com tanta força. Até já visualizava a cena da pancada se ela tentasse!
Quando cheguei à estação, ainda olhei umas duas vezes para trás, não fosse o diabo tecê-las...
Se calhar, exagerei um pouco... Mas ela fez-me sentir como um animal que protege a sua cria de um predador. O meu instinto animal veio ao de cima.
Mais um síndrome de mãe, com certeza...
A senhora tinha uma voz melosa, óculos da Dior e dois pormenores que me prenderam a atenção: um baton rosa choque que ultrapassava os limites dos lábios e o os pelos do buço a rebentar. Sabem aquela coisa que nos prende e para onde não queremos olhar mas para onde cai sempre o nosso olhar? aconteceu isso. Mas adiante.
Pergunta-me se vou para Lisboa e responde-lhe que sim, que vou ver uma amiga. Viro-me para o Tiago e digo-lhe "né 'mor, vamos ver a tia C." A dita diz-me "então, mas vai ver uma amiga ou uma tia dele?" Pensei logo "então mas essa está parva!" mas lá lhe expliquei (só eu mesmo) que as amigas são todas tias dele. la lá me diz que vai para Alvalade, ao psiquiatra, que eu sou uma sortuda porque não vou para lá. Começo a ficar em alerta e a agarrar o carrinho com força. Não sei bem porquê, se calhar pela maneira como falava com o meu bebé. Pergunta-me se o Tiago é o meu primeiro filho e depois diz-me "pois ainda é nova" e à questão "é bom ter um filho?", reponde-lhe que sim, que é a melhor coisa do mundo e que o Tiago é uma bênção. Olha-me assim de frente e diz: "nunca tive filhos, não sei o que é. Não os arranjo com 50 anos. Quando podia, não encontrei a pessoa certa. Sou seca e fria por dentro." Imediatamente, veio-me à cabeça a imagem da Nazaré da novela Senhora do destino e, assustada, fiz o filme: "ela quer levar-me o Tiago". O coração até começou a bater mais rápido. Chega o comboio e ela colada a mim e ao carrinho, a dizer "o Tiago parece gostar de mim, gosta, gosta". Eu a olhar em redor e ver a quem podia pedir ajuda, se necessário. Ficou ao meu lado, em pé quando havia muitos lugares para se sentar. Resolvi então tapar o Tiago e viramo-nos de costas para ela. Ela acatou e foi para outro sítio.
Sempre que o comboio parou, fiquei com medo de a ver. A sério. Não consigo explicar o pavor que senti quando meti na minha cabeça que ela talvez quisesse levar o Tiago. Até me doía as mãos de segurar o carrinho com tanta força. Até já visualizava a cena da pancada se ela tentasse!
Quando cheguei à estação, ainda olhei umas duas vezes para trás, não fosse o diabo tecê-las...
Se calhar, exagerei um pouco... Mas ela fez-me sentir como um animal que protege a sua cria de um predador. O meu instinto animal veio ao de cima.
Mais um síndrome de mãe, com certeza...
Comentários
Aliás, vejo-me a nem dar conversa à senhora e nem a deixar espreitar o carrinho desde o primeiro momento... É horrível vivermos num mundo assim, mas é essa a nossa realidade, sempre a ouvir e a saber de histórias tristes e mesmo que não queiramos transferimo-las para os nossos bebés...