Notre Dame

Entrámos na catedral de Notre Dame num domingo em 2004 ou 2005. Estava a decorrer a missa mais importante para os católicos e só nesse momento em que me ocorreu que era domingo de Páscoa. 
Eram centenas e centenas de pessoas, envoltas no fumo das muitas velas acesas, na homilia e nas vozes do coro. Ao fundo, alinhados como um exército, homens do clero vestidos de branco e dourado, com chapéus pontiagudos. Olhava para todo o lado, em bicos de pé: a rosácea estudada na escola, as colunas altas, as paredes e a luz que entrava e que tornava tudo ainda mais bonito. Não conseguíamos avançar e ver a Catedral calmamente e confesso que isso foi uma contrariedade. Tínhamos de a apreender do sítio onde estávamos. Lembro-me então de ter desistido de a ver e de começar a sentir. O canto do coro elevava-se cada vez mais, fazendo-me esquecer o som dos disparos contínuos das máquinas fotográficas. A luz tornou-se mais forte e quase carregada de misticismo. Senti qualquer coisa e comecei a chorar. Porquê? Não sei. Ainda hoje não sei responder à pergunta.
Quando saímos, tive noção do que deveria voltar para ver todos os pormenores. Não sei por que razão não o fiz. Terá sido o nosso último dia em Paris? Talvez. Sei que não regressei para a ver atentamente, apesar de a ter sentido.

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