Constatação dolorosa

Olho para o Tiago e não vejo um único traço de bebé ou até mesmo de criança que foi. Os olhos são a única coisa que não mudaram. Tudo o resto está diariamente em mutação.  Está grande, cheio de força, de vitalidade e com um apetite insaciável. Não consegue estar sossegado. Precisa constantemente de se mexer, de gesticular ou de falar. Vejo crescer dentro dele uma grande ebulição, um turbilhão de hormonas.
Se por um lado me agrada vê-lo crescer, tornar-se num adolescente simpatico, correto, divertido qb e giro; por outro assusta-me a adolescência. Sei que o vou perder para os amigas/os e namoradas/os, isso não me assusta. Assustam-me as palavras: aquilo que poderá ser dito ou feito nos momentos de zanga e que poderão minar durante décadas as nossas relações. Assuta-me não conseguir ajudar a equilibrar as emoções: as nossas e as dele, deixando de ver claramente o que realmente interessa. Assusta-me a ideia de deixar de haver momentos de cumplicidade e afeto. 
Já me disseram que terei de aproveitar todos os momentos em que ele estará disponível para mim. Fá-lo-ei, que se há coisa que sei é ouvir quem tem mais experiência do que eu. E depois lembro-me de uma mãe de um aluno que me confidenciou, em lágrimas, "tenho um estranho em casa e é o meu filho" e tenho medo que não haja um momento, sequer. 
Já me disseram também que não devo pensar nisso agora. Há tempo para a tempestade que aí vem mas torna-se difícil olhar para o Tiago e não pensar nisso tudo, nem que seja numa fração de segundo. É que por vezes até me custa a crer que aquele rapaz sentado no sofá seja o meu filho, aquele que me cabia nos braços. 

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