A culpa
Decidimos passar um fim de semana fora, a dois. A ultima vez que o fizemos foi em 2007 e nem foi bem a dois, que o Tiago já estava a germinar cá dentro!
A camisola da Culpa, que eu vesti no exato momento em que o meu primeiro filho nasceu, fez-se notar. Apertou-me mais que o habitual. Vamos sem os nossos filhos? Eles que adoram os hotéis e os seus pequenos-almoços, os passeios e a comida alentejana...
Eles estão bem e até já fizeram a estreia da piscina na casa dos avós mas ir sem eles...pfff... que peso na consciência!
Eles estão bem e até já fizeram a estreia da piscina na casa dos avós mas ir sem eles...pfff... que peso na consciência!
Mas vamos, que o Pai cá de casa não vestiu a dita camisola da culpa ou se a vestiu, consegue despi-la, felizmente!
Antes de ir, achei por bem dizer-lhes a verdade, até porque eles queriam que fôssemos para a casa dos avós.
Ui, o que fui fazer! A argumentação deles passou pelo "é injusto", "nunca vamos a lado nenhum", "estão sempre a dizer que temos de poupar dinheiro", "ou vamos os 4 ou ninguém vai" ou pior ainda "não somos como os outros: fazemos sempre tudo juntos." Ainda lhes disse que os pais iam namorar e que não iam há 11 anos mas eles foram categóricos: "não estamos de acordo".
Vamos na mesma, os dois, desfrutar de um sítio lindo no Alentejo. Tenho noção que hão de falar para sempre daquele fim de semana em que os pais foram passear e nos deixaram nos avós, tristes e abandonados. Até antevejo uma noite de Natal, em que um mano se vira para o outro e diz "nunca fomos com eles para lado nenhum. Lembras-te, em 2019, eles...". O pai cá de casa e eu haveremos de contestar, fazendo um lista de sítios para onde fomos os 4 mas eles lembrar-se-ão apenas deste, de certeza.
Ai, a culpa ligada à maternidade, cem mil vezes pior que a amamentação!
Comentários
Sabes que no livro Pais sem Pressa aprendi um conceito de "good enough parenting", que me descansou profundamente enquanto mãe e filha também.
Basicamente tu dás o teu melhor enquanto mãe, todas nós damos (mais ou menos, mas vá). Para umas o melhor é deixar de trabalhar e dedicar a eles a 100%, para outras é ter um emprego melhor e dar-lhes o melhor e tudo e tudo. No entanto, o nosso melhor, por melhor que seja, em algumas coisas vai ser só suficientemente bom para eles - e eles vão sempre achar que nós podíamos ter feito mais (ou diferente). No entanto, lá terão de viver e lidar com isso - não há nada que nós pudéssemos ter feito umas vez que acreditámos sempre estar a fazer o melhor por eles.
Toda a vida me queixei de os meus pais terem ido um fim de semana com as minhas irmãs, e eu não fui (porque era bebé). Não me lembro, mas aquela coisa de eu ter ficado para trás marcou-me. Tb me queixei sempre de não ter álbum de fotografias, não ter tido roupa nova, enfim, de ter tudo em segunda mão por ser terceira filha.
Agora olho para trás e penso, caramba, que sorte que tive, o que eu me queixo é só um fim de semana fora (que by th way era totalmente inadequado a um bebé) e não ter fotos - tanta gente a lidar com coisas muito mais sérias.
É isso. Que sorte a deles que aquilo que se vão queixar foi este fim de semana romântico em que ficaram na casa com piscina dos avós. Eles que lidem com essa frustração!