Post longo: provavelmente o post mais longo que escrevi até hoje
Na sexta, como combinado, fomos novamente ao hospital. O Pedro continuava com febre e com um ar prostrado (às 4h00 da manhã, liguei para Saúde 24 a perguntar se podia dar mais um ben-u-ron ao meu filho, embora não tivesse passado 8 horas - apenas 7- desde a última toma. Disseram que não. No hospital, garantiram-me que podia ao fim de 4 horas...) e diarreia. Quando colocado de barriga para baixo, não levantava a cabeça (coisa que já faz há 2 semanas). Também tinha o nariz entupido. A médica pediu para que ele fizesse um aerossol. Depois disso, quis recolher mais urina, mais sangue e tinha de fazer um raio X. Os exames do dia anterior estavam todos OK.
Sei que parece parvo mas eu queria que ele tivesse uma infecção urinária. Queria que me dissessem" ele tem tal coisa e resolvemos com isso." Tratava-se e pronto, o meu bebé ficava bem.
No meio disso tudo, ele recusava comer. Agarrava na mama e largava-a ao fim de 5 segundos. Só ao meios-dia, é que ele mamou 5 minutos, isso desde as 7h00 da manhã.
Depois de aerossol, começou a tortura: recolher sangue. Vou poupar os detalhes.E Se no dia anterior, tinha sido difícil, agora foi atroz. Estivemos mais de 30 minutos a tentar recolher sangue. A enfermeira não conseguia, o sangue coagulava, as veias demasiado finas (agravado pela perda de peso, menos 20 gr. que no dia anterior) rebentavam, não conseguia encontrar veia, etc. O Pedro berrava, roxo e olhava para mim, que chorava tanto como ele, e os olhos deles diziam "ajuda-me! Faz qualquer coisa!" Nunca mais me vou esquecer do olhar dele. Foi horrível. A enfermeira começou a ficar ansiosa também e pronto, lá conseguiu.
Quando saímos da sala, estava toda a gente a olhar para nós. Todos com olhares sentidos e de pena. Sentei-me numa cadeia e dois médicos (o que me tinha atendido no dia anterior quis acompanhar-nos) vieram ter comigo, levaram as minha coisas para o cantinho da amamentação onde me fizeram festas na cabeça, me falaram como se eu fosse a doente, a precisar de colinho. A enfermeira também veio ter comigo a ver como estávamos. Tentei dar mama que ele recusou. Acalmámos.
Fomos fazer o Raio X. Foram para a outra sala e não me disseram mais nada enquanto olhavam para o ecrã. (consegui vê-los através de uma janela). Pareceu-me que fizeram cara "eh pá que isso está feio". Perguntei se estava tudo bem e recebi como resposta "o pediatra fala consigo". Imaginam... Saí, desfeita em lágrimas a pensar no pior.
Aguardámos.
Os exames vieram e o raio X também. Está tudo bem. Nenhuma infecção. Os valores todos bons. A febre tinha desaparecido ao meio-dia mas Pedro continuava muito em baixo. Não comia. A médica perguntou-me se queria dar-lhe leite adaptado para tentar. Aceitei. A mesma coisa. Não bebeu nada e chorava sempre que lhe punha o biberão na boca. A médica quis tentar dar-lhe e só conseguiu que ele bebesse 20 ml. Foi tudo o que bebeu nessa tarde. Ela já a pensar no internamento quando o rapaz começou a arrebitar, a sorrir, a palrar. Deixaram-nos ir para casa com a condição do que a mínima anomalia, voltaríamos. Sugeriram dar-lhe como suplemento leite adaptado.
Diagnosticaram-lhe uma virose. O que eu detesto coisas sem nomes ou sem rosto. Estamos a lutar com uma coisa sem perceber muito bem o que é.
Em casa, mamou muito bem às 9h00. Do leite adaptado, mamou 5 ml. se tanto. Não quis mais nada. À meia-noite, não consegui dar-lhe mama. O pai conseguiu que ele bebesse 20 ml de leite adaptado. Foi dado à bruta, sempre a insistir, a pôr-lhe gotas na boca. Às 5h30, acordou com fome. Muita fome. Mamou, mamou, mamou e vomitou tudo.
Fomos para o hospital. Quando lá chegámos, também tinha manchas no tronco que ao longo do dia se espalharam pelo corpo e pela cara. Tinha perdida mais peso mais ainda. Menos 30 gr. que no dia anterior.
Foi internado. Vi a minha vida a andar para trás. Só chorava...Pelo meu Pedro e pelos outros dois bebés que lá estavam com ele, as máquinas, os choros, o ar desesperado dos pais que era igual ao nosso. Ao longo o dia, deram alta aos outros dois e ficámos só nós lá. Foi comendo, embora pouco. Na parte da manhã, só leite materno. A ansiedade, a falta de estímulos e tudo o mais fez com que eu não sentisse o leite a subir. E já estressava porque se calhar ele estava a passar fome porque não tinha leite. Foram buscar a máquina e tirava com a máquina e dava-lhe pelo biberão. Sempre bebeu pouco. A médica pensou que talvez ele estivesse a fazer reacção alérgica ao leite adaptado, à lactose. Não se chegou a nenhuma conclusão.
O Pedro dormiu a manhã toda. À tarde, foi ganhando vida e comendo cada vez mais. (embora sempre pouco) Do leite adaptado, bebeu só 30 ml. Continuavam a dizer que era viral. Os vómitos, a febre, o perder peso, etc. Pesaram-no novamente e por espanto nosso, tinha aumentado 90 gramas.
Às 20h00, a médica disse-nos que tínhamos duas hipóteses: ficávamos lá à noite em observação ou davam-nos alta. Ele estava bem, super bem-disposto, a reagir a todos os estímulos. A decisão era nossa. Como achamos que um bebé deve estar em casa e não no hospital, fomos para casa. A mínima coisa, teríamos de lá voltar.
Cá estamos em casa, ainda ansiosos. Pelo menos eu estou. A stressar porque ele come pouco, seja qual for leite e a maneira como o dou. Com o coração apertado e com vontade de meter-me na cama com ele e chorar, chorar, chorar como se as lágrimas pudessem sará-lo(de não sei bem o quê e nem sei se agora está doente...) e adormecer para quando acordar, perceber que tinha sido um pesadelo.
Não vos passa pela cabeça os filmes que fiz na minha cabeça; coisas que nem quero deixar escritas, pois as palavras têm muita força...Mas foram filmes que só de pensar neles, as lágrimas corre-me pela cara abaixo.
Só mais uma coisa: sei que o sistema nacional de sáude é muito debilitado mas nós fomos tratados de uma forma incrível. Desde os médicos, aos enfermeiros (que são o must do Garcia da Orta) até aos auxiliares, não temos nada a apontar. Se houvesse um grupo no Facebook para ser fã do Garcia da Orta, eu aderia!
Não sei se leram tudo até ao fim. Se sim, vão dar um xi aos vossos filhos porque não há dúvidas que é o melhor que temos. Se não os têm, lembrem-se dos vossos pais que têm filhos - nós. Por eles, fazemos tudo e mesmo quando pensamos que não conseguimos, que não temos mais forças, descobrimos que temos mais ainda, que ultrapassámos coisas que nem ao diabo lembre...
Sei que parece parvo mas eu queria que ele tivesse uma infecção urinária. Queria que me dissessem" ele tem tal coisa e resolvemos com isso." Tratava-se e pronto, o meu bebé ficava bem.
No meio disso tudo, ele recusava comer. Agarrava na mama e largava-a ao fim de 5 segundos. Só ao meios-dia, é que ele mamou 5 minutos, isso desde as 7h00 da manhã.
Depois de aerossol, começou a tortura: recolher sangue. Vou poupar os detalhes.E Se no dia anterior, tinha sido difícil, agora foi atroz. Estivemos mais de 30 minutos a tentar recolher sangue. A enfermeira não conseguia, o sangue coagulava, as veias demasiado finas (agravado pela perda de peso, menos 20 gr. que no dia anterior) rebentavam, não conseguia encontrar veia, etc. O Pedro berrava, roxo e olhava para mim, que chorava tanto como ele, e os olhos deles diziam "ajuda-me! Faz qualquer coisa!" Nunca mais me vou esquecer do olhar dele. Foi horrível. A enfermeira começou a ficar ansiosa também e pronto, lá conseguiu.
Quando saímos da sala, estava toda a gente a olhar para nós. Todos com olhares sentidos e de pena. Sentei-me numa cadeia e dois médicos (o que me tinha atendido no dia anterior quis acompanhar-nos) vieram ter comigo, levaram as minha coisas para o cantinho da amamentação onde me fizeram festas na cabeça, me falaram como se eu fosse a doente, a precisar de colinho. A enfermeira também veio ter comigo a ver como estávamos. Tentei dar mama que ele recusou. Acalmámos.
Fomos fazer o Raio X. Foram para a outra sala e não me disseram mais nada enquanto olhavam para o ecrã. (consegui vê-los através de uma janela). Pareceu-me que fizeram cara "eh pá que isso está feio". Perguntei se estava tudo bem e recebi como resposta "o pediatra fala consigo". Imaginam... Saí, desfeita em lágrimas a pensar no pior.
Aguardámos.
Os exames vieram e o raio X também. Está tudo bem. Nenhuma infecção. Os valores todos bons. A febre tinha desaparecido ao meio-dia mas Pedro continuava muito em baixo. Não comia. A médica perguntou-me se queria dar-lhe leite adaptado para tentar. Aceitei. A mesma coisa. Não bebeu nada e chorava sempre que lhe punha o biberão na boca. A médica quis tentar dar-lhe e só conseguiu que ele bebesse 20 ml. Foi tudo o que bebeu nessa tarde. Ela já a pensar no internamento quando o rapaz começou a arrebitar, a sorrir, a palrar. Deixaram-nos ir para casa com a condição do que a mínima anomalia, voltaríamos. Sugeriram dar-lhe como suplemento leite adaptado.
Diagnosticaram-lhe uma virose. O que eu detesto coisas sem nomes ou sem rosto. Estamos a lutar com uma coisa sem perceber muito bem o que é.
Em casa, mamou muito bem às 9h00. Do leite adaptado, mamou 5 ml. se tanto. Não quis mais nada. À meia-noite, não consegui dar-lhe mama. O pai conseguiu que ele bebesse 20 ml de leite adaptado. Foi dado à bruta, sempre a insistir, a pôr-lhe gotas na boca. Às 5h30, acordou com fome. Muita fome. Mamou, mamou, mamou e vomitou tudo.
Fomos para o hospital. Quando lá chegámos, também tinha manchas no tronco que ao longo do dia se espalharam pelo corpo e pela cara. Tinha perdida mais peso mais ainda. Menos 30 gr. que no dia anterior.
Foi internado. Vi a minha vida a andar para trás. Só chorava...Pelo meu Pedro e pelos outros dois bebés que lá estavam com ele, as máquinas, os choros, o ar desesperado dos pais que era igual ao nosso. Ao longo o dia, deram alta aos outros dois e ficámos só nós lá. Foi comendo, embora pouco. Na parte da manhã, só leite materno. A ansiedade, a falta de estímulos e tudo o mais fez com que eu não sentisse o leite a subir. E já estressava porque se calhar ele estava a passar fome porque não tinha leite. Foram buscar a máquina e tirava com a máquina e dava-lhe pelo biberão. Sempre bebeu pouco. A médica pensou que talvez ele estivesse a fazer reacção alérgica ao leite adaptado, à lactose. Não se chegou a nenhuma conclusão.
O Pedro dormiu a manhã toda. À tarde, foi ganhando vida e comendo cada vez mais. (embora sempre pouco) Do leite adaptado, bebeu só 30 ml. Continuavam a dizer que era viral. Os vómitos, a febre, o perder peso, etc. Pesaram-no novamente e por espanto nosso, tinha aumentado 90 gramas.
Às 20h00, a médica disse-nos que tínhamos duas hipóteses: ficávamos lá à noite em observação ou davam-nos alta. Ele estava bem, super bem-disposto, a reagir a todos os estímulos. A decisão era nossa. Como achamos que um bebé deve estar em casa e não no hospital, fomos para casa. A mínima coisa, teríamos de lá voltar.
Cá estamos em casa, ainda ansiosos. Pelo menos eu estou. A stressar porque ele come pouco, seja qual for leite e a maneira como o dou. Com o coração apertado e com vontade de meter-me na cama com ele e chorar, chorar, chorar como se as lágrimas pudessem sará-lo(de não sei bem o quê e nem sei se agora está doente...) e adormecer para quando acordar, perceber que tinha sido um pesadelo.
Não vos passa pela cabeça os filmes que fiz na minha cabeça; coisas que nem quero deixar escritas, pois as palavras têm muita força...Mas foram filmes que só de pensar neles, as lágrimas corre-me pela cara abaixo.
Só mais uma coisa: sei que o sistema nacional de sáude é muito debilitado mas nós fomos tratados de uma forma incrível. Desde os médicos, aos enfermeiros (que são o must do Garcia da Orta) até aos auxiliares, não temos nada a apontar. Se houvesse um grupo no Facebook para ser fã do Garcia da Orta, eu aderia!
Não sei se leram tudo até ao fim. Se sim, vão dar um xi aos vossos filhos porque não há dúvidas que é o melhor que temos. Se não os têm, lembrem-se dos vossos pais que têm filhos - nós. Por eles, fazemos tudo e mesmo quando pensamos que não conseguimos, que não temos mais forças, descobrimos que temos mais ainda, que ultrapassámos coisas que nem ao diabo lembre...
Comentários
Muita força!
As melhoras e beijinhos cheios de esperança.
Também passaei a tarde de sexta no hospital com o Vicente.
Por vezes entendo as pessoas que não querem ter filhos por esta razão. Nunca mais se está em paz, nunca mais se deixa de estar com o coração nas mãos, nunca mais se deixa de sofrer (e claro que nós vamos sempre dizendo que o bom compensa o mau, mas por vezes é tão difícil).
espero do fundo do meu coração que as coisas acalmem. Mesmo que não se chegue a perceber bem o que foi, agora só queremos que passe, não é?
Continuo aqui, se precisares.
Um beijo para ti e agora vou beijar muito o meu bebé.
Desejo que daqui para a frente tudo se recomponha. Um grande beijo para vocês.
Força minha querida, força, tudo vai passar.
Um beijo enorme
Ás vezes vamos buscar forças sem saber que as temos! Fiquei mesmo sem palavras apenas desejo que toda esta vossa fase péssima passe rapidamente!
não tenho comentado os teus posts mas tenho-os lidos todos e este não podia deixar de comentar porque se para ti este foi dos posts mais longos que escrevestes para mim foi dos mais angustiantes que li, sei que isso não te ajuda em nada mas é para saberes que aqui estou a torcer por ele, por vocês.
Acredito que tudo vai ficar bem e que o teu filho está muito bem entregue, a ti e aos medicos. muitos beijinhos e agora vou até ali dar um xi apertadinho ao meu pimpolho.
FORÇA!!!!!!!!
(margui)
Desejo as melhoras do Pedrocas e para ti amiga muita força que vais dar a volta por cima.
Depois de ter dado o Xi ao SImão só posso dizer-te que estou com o coração apertadinho por vos sentir a sofrer.
Nunca estamos preparados para ver os nossos filhos doentes. Mas agora tudo vai correr bem. Estou aqui a emanar toda a minha energia positiva para que esta tempestade desapareça.
Vai dando noticias.
Um grande beijinho com muito carinho.
Um beijo enorme, sentido, com votos que se tudo recomponha num instante...
Força!
(E sim, fui dar uma beijoca ao meu bebé quando acabei de ler o post.)
Um grande beijinho de força para vocês!!
Um beijo grande
Repolhas
As melhoras, descanso e paz para todos. Beijos nossos
Uma beijokas de força e as melhoras.
P.s: afinal o apartamento que eu pretendia em alvor, consegui alugar, muito obrigado. Beijokas
Como é que o Pedro está?
Beijinhos
E estou com um nó na garganta...
Fiquei tão angustiada e preocupada com o que se passou e está a passar convosco!
Muita força!
Infelizmente, também já precisei de ir à urgência pediátrica do HGO e também acho que são 5 estrelas!
Incansáveis!
Um beijo enorme
Muita força!
Um beijão e muita força!!!
Julgo que imagino o sufoco, mas acredito que nem devo conseguir chegar perto
Mas vai correr tudo bem
Um beijo muito grande e muita força
Não te deixes ir abaixo minha querida
As melhoras
Quanto a ti, Tella, espero que comeces a "arrebitar" também... Ver um filho doente, sem pouco ou nada fazer não deve ser nada fácil...
Um beijinho grande para vocês.