A mãe que há na professora e a professora que há na mãe

Uma das  (muitas) coisas difíceis que tenho de saber gerir é essa coisa da escola, que bem sabem, é muito mais complexa do que a amamentação!
Tenho sempre muito de mãe nos meus alunos:  percebo as suas zangas quando um funcionário ou até um professor lhes diz, num momento mais infeliz, num momento de maior desgaste, qualquer coisa menos simpática, sinto o cansaço deles depois de umas rondas desgastantes de testes e a frustração de terem dado muito do seu esforço para, por vezes, terem resultados aquém do investimento ou da expectativa. Sou a primeiro a dizer-lhes que não são apenas números nos testes, que têm um mundo dentro deles que é tão mais importante que um número num teste, que são a soma de várias vivências, experiências e aprendizagens e não, felizmente, apenas a média de dois testes. Acabo sempre por dizer-lhes que não somos, felizmente, uma tabela do Excel. É preciso lembrar-lhes, pois a minha escola, como muitas que por cá andam, pauta-se pela exigência e os miúdos mais sensíveis, menos focados, podem rapidamente perderem-se e perder a motivação pelo ensino.

Tenho sempre muito de professora nos meus filhos. Tive uma reunião com a professora do meu filho e comecei a dizer "acho que o Tiago é um aluno...". A professora, e bem, corrigiu-me "é um menino".
Exigo-lhe boas notas. Não quero, e é quase regra de ouro, que tenha notas abaixo do Bom, como se ele fosse apenas uma nota ou uma classificação, esquecendo-me de tudo o que digo e acredito. Quero que dê o seu melhor, achando que o seu melhor é aquele Bom. Hoje, saiu da escola em lágrimas porque o teste de português foi horrível. Não o acabou, não teve tempo de passar a composição do rascunho para a folha de teste, nem uma linha.  Sei que  tem um ritmo mais lento e em vez de arranjar soluções para o ajudar a ultrapassar este handicap, em vez de lhe dizer que na próxima, faz o teste com um relógio ao lado, que ainda há muitos testes pela frente, que passamos e a escrever textos juntos, com temporizador como se fosse uma bomba, que ele tem um mundo cheio de histórias para contar, saio-me com uma pérola "andas sempre a olhar pro dia de ontem, por isso não acabaste o texto!". Arrependi-me logo e pedi de imediato desculpas mas ele, sensível como é, ficou ainda mais triste. Que infeliz, I know. Digo uma coisa num sítio e atuo de forma diferente num outro, apesar de achar que tenho razão em ambos os casos (ou não, ou não).

A questão aqui é: como é que tenho menos de professora na mãe que há mim e menos mãe na professora que há em mim?

Comentários

Cartuxa disse…
Ai amiga...ando nesses dilemas ha tantos anos!! E pior: quando não tratas dois filhos da mesma maneira, seja como prof ou como mãe, e isso te é atirado à cara tipo splash! Porque um tem determinadas capacidades em termos curriculares e embora estudasse pouco, tinha boas notas facilmente e a pessoa acaba, lá está, por achar que se fica a 2% do Excelente, podia ter tentado. E depois tens outro que é muito mais honesto no estudo mas não consegue transmitir tudo num teste e o seu Satisfaz Bastante baixinho, ou o seu Satifaz altinho, já te satisfazem porque sabes que ele deu o seu melhor... e depois ouves, pois com o A nunca se zanga e já comigo... isto da maternidade tem muito que se lhe diga e por muito esforço que façamos, sai sempre qualquer coisa menos bem. Quem tenta mostrar o contrário neste mundo virtual é totally fake.
Raquel Ribeiro disse…
Não te posso ajudar!!!
Este texto são tão mas tão eu!!!! prof e mãe e não saber gerir bem isso!!!
bjs
Mary QA disse…
Ora pois, isto de ser professora tem muito que se lhe diga, e na minha opinião (corrijam-me vocês, professoras, se estiver errada) há um bocadinho aquela sensação de que o filho/aluno é o reflexo da mãe/professora - como se o resultado do filho de uma professora fosse o reflexo do desempenho da mãe enquanto professora, e daí essa exigência em relação às notas.
Acho as notas tão redutoras, e que dizem tão pouco da capacidade dos alunos, que sinceramente não lhes dou importância - quem se lembra de que notas teve na primária? Ninguém. Do que saiu nos testes? Ninguém. O que nos fica são os trabalhos de grupo, o que investigamos, as visitas de estudo, a curiosidade que trazemos.
A História está cheia de mentes brilhantes, seres humanos fantásticos, grandes artistas, que tiveram péssimos resultados nas escolas...
As notas são uma ínfima parte daquilo que somos, e no fundo, só a partir do secundário é que interessam para alguma coisa!
Dito isto, só tenho um filho na primária, que tem muito bons resultados, logo vejo se com as outras pensarei assim...