Os meus filhos tornaram-se treinadores de futsal do clube onde jogam. Treinam o escalão Benjamim, miúdos e miúdas com 8-9 anos.
A equipa técnica saiu ao meio da época e o meu mais velho lembrou-se que tinha sido treinado, nessa mesma idade, por atletas Juniores do clube onde estava na altura. Quis então fazer a mesma coisa. O irmão, guarda-redes, quis juntar-se ao projeto e ser o treinador dos GR. Dois outros colegas de 17 anos foram convencidos e lá aceitaram. É preciso uma comunidade para criar uma criança e um escalão desportivo.
Tiveram de convencer a Coordenação e Direção do clube. O Tiago alegou que está habituado às crianças, pois trabalha com gosto, no verão, na primária do Colégio, levando os pequenos à praia e fazendo atividades com eles.
[Acrescento aqui: e com muito jeito. Ando a dizer ao rapaz que seria um excelente professor da primária, mas nessas idades, quem quer ser professor? ]
Continuando. Referiu que joga futsal desde os 7 anos, que gosta de tática e que sendo o pai cá de casa mister nas horas vagas, estava completamente à vontade com o trabalho a fazer em casa. Estatística de treinos e golos ? É bom aluno na Matemática!
Ou por falta de opções ou por terem gostado da conversa dele, a verdade é que já treinam há 15 dias.
Os pais estão desconfiados, claro. "Quem são aqueles meninos que vão treinar os nossos meninos?". Percebo-os. O Tiago diz que se sente pressionado e até nervoso por ter os Encarregados de Educação a assistir aos treinos. Ficou irritado porque um pai achou por bem entrar em campo para ir falar com o filho, mas nada disse. A idade é um posto que ele ainda não atingiu.
Eu estou orgulhosa deles por vários motivos. Fazem parte de algo, largam os telemóveis e dedicam-se aos outros. Gosto de os ver crescidos e responsáveis. Fazem micro-ciclos de treinos, unidades de trabalho, trocam ideias um com o outro. O pai cá de casa supervisiona e aconselha. Eu dou dicas na forma de lidar com os pais.
Falta-lhes ainda muita coisa, mas estou, repito, orgulhosa da postura deles.
Hoje é o primeiro jogo deles enquanto misters. Estão nervosos. Não há nenhum treinador de outros escalões a ajudar. Está tudo em jogo. O pai cá de casa está numa formação. Sentar-se-ão sozinhos no banco com os seus atletas. Sentar-me-ei na bancada, sozinha, a torcer por eles. Espero que ganhem. Há todo um grupo de pais a avaliarem os meus filhos e sinto que eu, enquanto mãe, também estou a ser avaliada.
Faltam 40 minutos para o jogo.
EDIT: o Pedro teve de ser árbitro, pois há greve de árbitros e diz o regulamento que tem de haver um elemento de cada banco a apitar nestes casos. Coitado. 15 anos.
Perderam. 9-5
Comentários
O resultado pouco importa nestas experiências! Muito fixe. Um orgulho!