Internado há uma semana, o meu pai está frágil. A coisa não é para menos: insuficiência cardíaca, enfisema pulmonar e retenção de liquidos.
Numa das visitas, senti emoções contraditórias. Enquanto um enfermeiro o preparava para o tirar dos Cuidados Intensivos e transferi-lo para os Cuidados Intermédios, perguntava-lhe um rol de coisas com uma linguagem demasiada rebuscada para um homem como o meu pai e, ainda por cima, completamente surdo.
Foi constrangedor ver o meu pai sem perceber nada do que estava a ser dito. As suas respostas não faziam sentido, o olhar meio perdido à procura dos meus. Ele não estava a compreender. (A falta de empatia do enfermeito, fruto do cansaco e saturação, de certeza, afligiu-me: ó senhor, olhai para quem está a vossa frente e falai de uma forma mais simples e sem julgamentos ou escárnio, pois não o conseguis esconder.)
O constrangimento deu lugar, durante uns segundos, à vergonha. Simultaneamente senti uma ternura imensa por vê-lo tão frágil, naquela postura quase subserviente ao Sr. Enfermeiro. Da ternura à pena, foi um ápice.
Pede-me sempre que vá falar com alguém porque não consegue perceber a linguagem dos hospitais e fica ansioso. "Trata do pai, que eu já não consigo tratar de mim".
Está a envelhecer e está doente e o pouco discernimento que tinha está a ir embora.
Por sua vez, a minha mãe, sozinha em casa, já emagreceu bastante. Não tem paciência nem cabeça para cozinhar ou comer. Ao telefone, disse-lhe "Logo levo-te uma sopa."
Os papéis inverteram-se.
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