Gatos, outra vez.

A Lara chegou no dia 3 de junho e a nossa vida piorou. 
Desde muito cedo, percebi que tinha de a devolver. Já escrevi sobre isso aqui. Acordava todos os dias a pensar "é hoje" mas depois ficava com pena da gata e com vergonha do meu lado negro.
Durante este tempo todo, ela nunca fez cocó na caixa. Era nos cantos da casa. No início, nem xixi. A minha vida, como referi, era limpar a casa e pensar "caralho mais a puta da gata" e verbalizar coisas como "A gata é mesmo estupida. Nem gosto dela".  
Para além disso, o James continuava a ter um comportamento violento para ela e ela escondia-se em todo o lado. Ela também despertou o lado obscuro do James. 

Houve um dia em que disse "não passa de hoje". Falei com a senhora da associação via Messenger a perguntar-lhe quando a podia devolver. Ficou marcado para sábado, entre as 10h e as 11h.  Tinha apenas de lhe ligar para ela ir ter ao gatil. No sábado, liguei, liguei e nada. Não atendeu. Já tínhamos a bicha na transportadora a miar como se não houvesse amanhã e nada de voluntária. Às 12h, desistimos. Libertámos a gata entre mil palavrões. Que ansiedade a minha, nem imaginam. Fomos dar um mergulho ao mar para acalmar a neura.
Entretanto, já a caminho da praia, consigo falar via FB com a voluntária. Tinha gravado mal o número de telefone dela. 
Na semana seguinte, arranjámos outra casa de banho onde ela começou a fazer apenas xixi. Menos mal e decidimos aguentar mais uns dias mas depois de assistir a um ataque inacreditável do James à gata, achei que ela não era feliz. Aliás, ninguém o era. Tinha de ser agora. 
Voltei a ligar (já com o número correto!) a dizer que a ia devolver 3 dias antes de irmos de férias. Combinei a entrega para o dia seguinte. Nesse mesmo dia, de manhã, ela liga-me a dizer que os gatos do gatil estavam em quarentena, com uma doença qualquer altamente contagiosa. Claro que ela ficou em casa. Durante o mês de agosto, a senhora foi lá à casa tratar dos gatos. Dizia sempre que estava tudo bem mas as câmaras ligadas em casa mostravam-me o contrário.  
Quando chegámos no dia 15 de agosto, numa passagem entre o Algarve e o Norte, estive mais de duas horas a limpar trampa. Quando regressei da terra para o Alentejo, estive outras tantas horas a fazer a mesma coisa. Que nojo. 
Sabia que tinha de pôr um ponto final nessa situação, acabar com tudo isso. Quando vezes olhei para a gata a pensar "era tão feliz sem ela"...
Li não sei quantos fóruns sobre gatos, todas as minhas conversas acabavam a falar dos gatos e o pai cá de casa chegou a fazer um teste online "saiba se o seu gato é feliz.". A loucura. 
Descobrimos entretanto que o James fazia as suas necessidades nas caixas todas para marcar território e era esse o motivo para ela não as usar. Comprámos, na quinta-feira passada, outra caixa de areia cuja entrada é feita por cima. Colocámo-la num patamar superior.  O James, demasiado gordo, não consegue subir ao dito patamar  nem entrar por cima na caixa de areia. Foi o milagre há tanto tempo esperado. O primeiro cocó na caixa teve direito a palmas dos 4 como as crianças quando fazem no penico pela primeira vez. Fomos passar o fim de semana fora e, pela primeira vez, chegámos à casa e não tive de a limpar.

Enquanto escrevo, apercebo-me que a Lara se safou por duas vezes do voltar ao gatil. Estava escrito que ela tinha de ficar connosco. Quem passa por tudo isso tem de ter um papel importante no seio da família.  

Comentários

Carolina disse…
Dizem que o intestino é o segundo cérebro...
Mary disse…
Tiro-vos o chapéu pela vossa paciência e persistência... Limpar coco que não é de filho é dose mesmo!
Por outro lado fico a pensar na ironia do paralelismo com o mundo dos humanos: ela é que foi tida como "estúpida", ela é que esteve prestes a ir para o gatil, no entanto era ele que estava ali a boicotar a coisa e a marcar território! Quantas vezes isto não deve acontecer sem darmos por isso?
Good luck e que sejam todos felizes agora :)