A primeira quinzena - Armona

As férias chegaram ao fim já há uns dias. 
Retenho sobretudo a primeira quinzena, na ilha, os 5, numa rotina já mil vezes ensaiada e por isso imbatível. 
Não tivemos aqueles finais de dia na praia brutais por causa do vento nem tivemos a água quente. Nada disso. Tivemos porém coisas espetaculares e, como escreveu a Carolina, simples: as gargalhadas, os silêncios, as conversas, a alegria dos meus filhos, as leituras, o bolo de Olhão, o cinema ao ar livre com o ET (melhor filme para aquele sítio), as máscaras e fatos de Carnaval do César, os filmes que eles realizaram, o Afonso que nos acompanhou ao cais na hora da partida e que ficou até o fim connosco, os delírios de ficar a viver lá e abrir um negócio, a Nónó, a Bardajona-mor e a outra que deixou de ser bardajona, o grupo no parque até a meia-noite, a conquilha, as poucas corridas na praia, que foram difíceis e nem sempre prazerosas, a serenidade que aquela praia me dá, o respirar fundo, olhar e pensar "é a melhor praia do mundo", o horizonte azul, o mar transparente, os jogos da bola do Pedro, o pão alentejano, a caipirinha da Carolina sem açúcar, as caipirinhas dos miúdos sem álcool, as minhas e as do pai cá de casa com tudo; os grelhados, o pai cá de casa a dizer-me, num jantar, "gosto tanto disto", como se fosse uma criança. Etc. 
E as lágrimas no fim. O Pedro, para quem a ilha é sinónimo de Liberdade, sente o fim da ilha como o fim dum momento único e irrepetível ao longo do ano. A despedida da ilha foi uma catarse, com um choro que brotou lá do fundo e que foi incontrolável. Veio tudo ao de cima: os verdadeiros amigos que deixa, a escola que detesta, a turma que é parva e que o deixa ansioso, os erros que comete a escrever, o mano que é um tirano e que manda nele, etc. Por isso tudo, queria ficar na ilha. Na hora da despedida, estávamos todos metidos numa bolha, silenciosos, cabisbaixos e com um nó na garganta. Felizmente, o pai cá de casa, a Carolina e eu tínhamos os óculos de sol ao fazer a travessia para Olhão e as nossa lágrimas ficaram retidas.  

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