2019 mais ou menos revisto

2019 foi um ano em que vivemos muito os 4 para os 4, numa espécie de bolha onde nos bastamos uns aos outros. Há quem diga que vamos estranhar quando eles não quiserem estar nessa bolha e que nos vamos sentir sozinhos, até porque estamos agora muito distanciados dos amigos e familiares. Talvez mas não quero pensar nisso agora. Farei o balanço na devida altura. 

Assim de repente, retenho duas coisas marcantes: a viagem a Londres (porque foi a nossa primeira viagem de avião a 4 e porque adoro a nossa dinâmica familiar quando estamos fora de casa) e a morte da Fifi que ainda não foi ultrapassada pelo Pedro. Nós os três já conseguimos falar dela a sorrir, mas ele não, ainda o faz a chorar e recusa-se ver qualquer fotografia dela.

Vim poucas vezes à terra porque a casa esteve em obras e sobretudo porque deixou definitivamente de ser minha quando passou a ser nossa no papel. Há coisas que... 

Pensei em demitir-me. Estive quase a fazê-lo. Até cheguei a enviar SMS ao pai cá de casa com a minha decisão "irrevogável". Depois, acho que me acobardei ou então percebi que sair dali envolve também e muito os meus filhos. Levei o "irrevogável " pouco a sério como muitos que conhecemos.  

Dei valor às pequenas coisas que são muito importantes: ver uma série com eles, dar-lhes a conhecer músicas, ler em voz alta o início de um livro, mergulhar no mar, contar-lhes histórias da família, estar com os poucos amigos que tenho, abrir uma garrafa de vinho, partilhá-la com o pai cá de casa e rirmos muito depois disso, ler enquanto o pai cá de casa toca, fazer caminhadas e todos aqueles clichés que fazem revirar os olhos. Sou grata pelo que tenho. Sou uma privilegiada, sem dúvida. La vie est un long fleuve tranquille. 

Tenho uma gata nova que ainda não me conquistou. Gosto da bicha e quero-lhe bem mas não sinto nada mais para além disso. Às vezes, até uma certa indiferença. Não gosto deste meu lado mais feio e a Lara consegue realçá-lo como ninguém. 

Comi as melhores migas alentejanas da minha vida e quero lá ir novamente quando fizer anos. Foi num restaurante em Melides. Não sei o nome. 

Fomos os 4 ao choco frito a Setúbal pela primeira vez e foi um dos jantares mais feliz de 2019.

O meu Tiago fez 12 anos e não quis festa. Pediu para lhe cozinhar tudo o que queria. Passámos o dia inteiramente juntos, a 4 e ele disse que tinha adorado.

Os meus fins de semana são demasiado dedicados ao futsal. Acho sempre que é horrível mas a verdade é que prezo essa coisa de estarmos os 4. Dou sempre por mim a assitir aos jogos deles, mesmo quando digo na véspera que não vou. Os jogos que mais gosto de ver são os do Pedro, embora sofra mais. Mãe de guarda-redes sofre muito, garanto-vos. 
Desde o início do ano que faço um coração com as mãos quando eles vêm ao centro do campo fazer a vénia à bancada. Há um colega do Pedro que já aponta para ele quando ele está distraído a olhar para outro sítio. É um ritual nosso. O Pedro faz aquele ar "Ó mãe, que vergonha mas ainda bem que o fazes" e o Tiago faz o ar "Obrigada mãe, adoro quando fazes isso."
Não gosto nem um pouco do treinador do Pedro. Nao posso com ele e já estamos na fase em que nem falamos um com o outro. É uma pessoa sem princípio que vê resultados e não crianças. Custa-me ver aquele homem a treinar o meu filho. O que me vale é que o Pedro é um miúdo esperto que já percebeu que nem sempre é simpático com os meninos que não jogam bem. Também não se revê no mister e já me disse que não se importava de mudar para o clube rival...
O treinador do Tiago é o pai cá de casa e gosto muito da relação que tem com os miúdos. 

Acampámos no verão a 4 e eles querem repetir para o ano. Não vou dizer que fiquei fã como o era aos 20. Aos 41, já custa um pouco, vá.  Apreciei sobretudo a felicidade deles e quando comparei o campismo à ilha de Armona, pela liberdade que eles têm, o Pedro respondeu-me prontamente "mamã, não exageres. Não há nada como a ilha." Sim, como sempre, os primeiros 15 dias de Agosto na ilha foram imbatíveis para todos. É a nossa bolha de oxigénio para o ano inteiro. Estamos os 5 sempre em sintonia. Vale ouro. [Falo desses dias e dá-me um aperto no peito. ]

Olhou para o meu corpo e sinto que envelheceu. Não falo só de rugas mas de elasticidade. As coxas começam a parecerem-se com pernas de pessoas de idade avançada, os braços flácidos, o pescoço descaído. Como engordei bastante em 2019, fiquei com novas estrias nas ancas. O meu corpo mais um pouco tatuado, um registo de que se passa por dentro e por fora...
Olho também para os meus. A minha mãe envelheceu bastante e está muito cansada. O meu pai voltou a engordar demasiado mas continua a ser a pessoa mais generosa que conheço.
A minha sogra está muito velha e continua a ser a melhor avó que os meus filhos podiam ter. O meu sogro tem uma vitalidade surpreendente, para o bem e para o mal. É uma pessoa que não consegue conter coisas menos boas e que nos entristece com o que diz. Por vezes, faz coisas boas também. A minha avó está em sintonia com a Natureza. Murcha no inverno e renasce na Primavera. Num jantar qualquer, em abril, voltou a conversar connosco à mesa e a pedir um cálice de vinho do Porto no final da refeição. Noto-a agora mais apagada e mais virada para dentro outra vez. 
O Tiago está grande e cheio de forças. É um rapazão muito bonito. O Pedro cresceu mas continua magro e com ar frágil. Em ambos os casos, o exterior esconde o interior. O mais forte é emocionalmente frágil e esconde mil inseguranças e ansiedades. O mais frágil ( também ansioso na escola ) revela uma postura segura e determinada. Sabe o que quer e não precisa do aval de ninguém para o conseguir. 

Li 42 livros. O livro Eliete foi o que mais gostei. Descobri vários autores novos, pelo menos para mim e gostei muito de mergulhar novamente na leitura. Sinto necessidade de sublinhar frases, coisa que nunca fazia antes. 
Corri somente 305 km. Estive pouco focada na corrido e se despertei, já no final do ano, muito se deve à SMS da Carolina a chamar-me à atenção. Foi um estalo necessário. Esteve muito bem. 

Em 2019, ainda fiz fretes. Que seca. Espero que sejam muito menos em 2020. 

Comentários

carolina disse…
está brutal! de levar às lágrimas!
Raquel Ribeiro disse…
Gostei de ler o teu resumo de 2019! Comento cada vez menos, mas vou andando por aqui!
Beijinhos e um excelente 2020, ou ao menos melhor que 2019!