2018 revisto

Entrei em 2018 com o pai cá de casa e os meus filhos em frente à capela da aldeia, contando as 12 badaladas. Para mim fez todo o sentido fechar 2017 e começar 2018 no símbolo dos Lugarinhos. Afinal de contas, 2017 tinha sido o ano em que estreitámos (ainda mais) os laços com a nossa terra. Embora não o soubéssemos ainda, 2018 foi também um ano em que voltámos a marcar presença na festa da aldeia, participando na sua organização. Dessa festa, que é uma grande entrega e um árduo trabalho, resultaram sentimentos e emoções fortes, amizades sólidas, histórias, músicas e anedotas hilariantes, fotos tiradas às 8h00 da manhã depois de uma noite de trabalho e lágrimas vertidas por causa de um abraço, de um som ou de uma recordação.

[Quando éramos miúdos, a procissão fazia-se acompanhar de foguetes. Durante 20 anos, deixámos de os ouvir. Em 2018, fizeram-se ouvir novamente. No momento em que rebentaram, o pai cá de casa e eu trocámos olhares e num segundo, os nossos olhos encheram-se de lágrimas. ]

2018 foi um ano tranquilo, felizmente, sem nada a relatar. O ano decorreu com a certeza que a vida é como um rio longo e sossegado, num amanhecer sem fim e com um sol que nos aquece. Segui a vida, como a corrente de um rio, sem pôr em causa o que acontece ou não acontece. Em 2018, aceitei o que tenho e o que não tenho ou o que tive ou não tive. Em paz. 
Em 2018, fiz 40 anos e depois de escrever uns posts sobre os 40 - que me deram imenso gozo -  fez-se luz. Saí de casa e fui tatuar "La vie est un long fleuve tranquille". Quis mais uma vez escrever no exterior o que sinto no interior, fazendo jus à minha primeira tatuagem (uma borboleta a sair/nascer de uma estrela), ou seja (re)lembrar no exterior que a mudança faz-se no interior.
Fazer 40 anos não me trouxe sabedoria, nem experiência nem nada disso. Foi apenas a formalização de uma nova Tella, que já existia  há uns anos. Essa eu não é melhor nem pior; está em sossego, apenas. Os 40 trouxeram-me mais cabelos e pêlos brancos, rugas bem vincadas e sinto, há poucas semanas, que estou a envelhecer mais rapidamente, ou usando uma metáfora bem forte, a murchar em força! A cena da milf e tal não mora cá! Por causa disso, raramente saio à rua de cara lavada. A base e o blush são os meus novos amigos.

[Felizmente, em 2018, o pai cá de casa fez sempre questão de me elogiar bastante. Na boca dele, sou a tal, a boazona, a mais gira de todas, a que ele mais deseja. Em 2018, continuámos a funcionar bastante bem, apesar de todas as crises.]

Em 2018, a vida girou bastante [demasiado, quase] em torno do futsal: os treinos dos filhos, os jogos dos filhos, os jogos do pai cá de casa que compete na distrital dos veteranos da liga não sei das quantas e os treinos do pai cá de casa que agora é mister. Foi too much. A nossa vida ficou completamente refém disso e condicionou a nossa família. 
Fomos também reféns da escola e dos testes dos miúdos. 

Perdi muitas vezes a cabeça com o Pedro que detesta estudar e que é super teimoso. 5 minutos a estudar com ele e já estou aos berros! Continua com dificuldades grandes na escrita. Ele próprio interiorizou que não é capaz. Super complicado! 
Depois de uma avaliação psicológica na escola, informaram-nos que o nosso filho é "brutalmente ansioso" [sic] e que tem de fazer psicoterapia. Começará em breve. Em 2018, o Pedro foi uma preocupação muito grande.

[Ainda há umas semanas tive um pesadelo com a professora dele a dizer-me que ele nunca será nada na vida se não mudar de olhos porque tem olhos redondos que encaram as coisas erradamente... E eu, assustada, perdida, só lhe dizia que tinha perdido o molde...  Enfim... Ó Freud, anda cá ver isso!!]

O Tiago cresceu muito. É cada vez menos o meu filho bebé. Continua meigo, é certo, mas é cada vez menos meu. Está a ser menos difícil do que pensara porque vê-lo tornar-se num rapazão é maravilhoso. Meu rico filho. Meu amor crescido, que apesar de tudo ainda quer que me deite ao seu lado durante 10 minutos para conversarmos sobre coisas da vida. 
O Pedro continua a ser o miúdo autónomo, que faz o que quer, agradando ou não aos outros. Na verdade, está-se a borrifar para os outros! 
No verão, na praia, quando o procurava, lá estava ele na água, já bem longe, sozinho e independente do alto dos seus 8 anos. A Carolina disse-me num desses momentos que devia ser tão bom ser como ele. As palavras da Carolina e as palavras do treinador de guarda-redes ("...foi ele quem exigiu que olhassemos para ele de um outro prisma, pois não estava feliz. Ele teve essa coragem de apostar nele próprio.") deram-me a perceber que o meu rapaz é especial e que só alguns se apercebem disso. Não é um miúdo consensual mas é um puto que cativa os mais atentos ou também os mais especiais. Meu rico filho. Meu amor pequeno, que olha ainda para mim com os olhos cheios de amor e carinho.

Há quem tenha sempre Paris mas nós os 5, we'll always have Armona, lugar de cumplicidade, de descanso, de risos e de silêncios. Um clássico, ano após ano.

Como já sabem, sou uma mulher de listas e metas. Não poderia portanto acabar este post sem dizer que em 2018 vi muitas séries, li 21 livros (uau), corri  507 km, fui 1 vez ao cinema, vi 5 ou 6 filmes e não sei nenhum título, adormeci mais de 100 vezes em frente à TV, escrevi 5 ou 6 posts que me fizeram bem à alma e que me deram muito gozo, vi 1 peça de teatro e não fui a nenhum concerto.


Comentários

carolina disse…
adorei!
e sim: "Há quem tenha sempre Paris mas nós os 5, we'll always have Armona" <3