46 anos

 No dia em que fiz 46 anos, a 14 de maio para os mais distraídos, tive de ir, com o meu irmão, a Guimarães, ao funeral da minha avó. 

Nem sempre me lembrei que fazia anos nesse dia. A minha mãe deu-me os parabéns a meio da tarde, a chorar, em frente à capela. Não senti que fazia anos. Foi um dia estranho. 

E, no entanto, fiz 46 anos. Fiz anos rodeada do irmão e pais, sem filhos ou pai cá de casa. Não passava o dia de anos com eles há talvez 31 ou 32 anos. Não sei se voltará a acontecer. Foi estranho também por isso. Na verdade, essa parte foi boa. Estávamos os 4 no carro e rimos bastante, como forma de afastar a tristeza. Foi bom estarmos os 4 nesse dia. E é estranho dizer isso no dia em que nos despedimos definitivamente da avó Monteira.


Comentários

Carolina disse…
A morte, ao mesmo tempo que nos distancia fisicamente de quem morre, tem, regra geral, o pendor de nós (re)aproximar de alguns vivos. Deixa uma sensação boa desse conforto ainda que efémera. Jamais se repete nas mesmas circunstâncias e com o mesmo desprendimento. Aproxima-nos dos vivos porque estamos lá pelos mortos.