20 anos

Tornei-me professora em Setembro de 2002, há 20 anos. 

Comecei numa escola pública, no ano de estágio, com a Carolina e a Magda. Foi desafiante e lembro-me de querer desistir, mas de não poder fazê-lo porque tinha contas para pagar - quem nunca, certo? - e porque era preciso coragem para assumir que desistia logo à primeira. 

No final do ano letivo, já percebendo que não ia ser colocada no ano seguinte - havia excesso de professores então - enviei centenas de CV para escolas privadas de Lisboa e Setúbal. Fui aos correios e paguei 4 contos  em selos (ainda pensava em escudos e foi essa a lembrança que me ficou). Apenas uma escola me contactou para ir à entrevista. Dois dias depois, na véspera do arranque letivo, fui contratada. Ainda estou nessa escola. Aprendi lá a ser professora, a gostar muito do que faço, a assentar a prática pedagógica nos afetos, a criar laços com os meus alunos, que me reconhecem e se lembram do meu nome quase 15 anos depois. Ainda este ano, em pleno noite de Santo António, duas ex-alunas, mulheres feitas de 29 anos, passaram por mim, pararam e deram-me um abraço "professora Tella!" Eu lembrei-me também do nome delas. Foi tão bom! Há melhor do que isto? Os amigos com quem estava nem queriam acreditar que tal coisa fosse possível, mas é. O pai cá de casa assegurou "não há um sítio onde esteja em que não encontre alunos ou ex-alunos que lhe fazem uma festa."  É também por isso que gosto muito de dar aulas aos adolescentes do 3°ciclo porque conseguimos, com muita e muita paciência e alguns gritos - dar aulas não é um mundo cor-de-rosa cheio de unicórnios, como calculam -  chegar lá,  deixar qulaquer coisa. E nem sempre são os conteúdos programáticos, mas são coisas também muito importantes como as emoções ou os sorrisos.

Algumas coisas não mudaram ao longo dos 20 anos: fico sempre ansiosa com o primeiro dia de aulas e emociono-me sempre no último dia porque as despedidas aos alunos são sempre comoventes para mim. Já me conhecem, sou uma nhónhó.