Fim do ano letivo

1. Do Tiago
Entrou no 5°ano com receios, a choramingar que não conseguia passar as coisas todas do quadro, que era difícil, que não sabia gerir o tempo, que tinha muitos TPC e que não sabia estudar sozinho para os testes. Paralelamente estava fascinado com o liceu: os campos de futebol, as tardes livres, os menus que podia escolher no refeitório e até com os cacifos. 
Um dia, disse "preciso da tua ajuda que não consigo." Chorou muito.
Dei-lhe o apoio que achava que devia. Orientei e organizei-lhe as coisas. Fiz-lhe os resumos para o primeiro teste de HGP para que ele percebesse como se fazem. Eu que pensei que nunca ia fazer tal coisa e pumba... Sabia lá ele como estudar 50 páginas para um teste! 
A partir desse teste, organizou-se cada vez mais sozinho. No terceiro período, já fez quase tudo autonomamente.
Deixei de ver os TPC logo no início e nunca vi se tinha cadernos atualizados nem nunca lhe fiz ou verifiquei a mochila. A partir de janeiro, fez as suas tarefas na escola, durante a hora de almoço ou nas tardes livres. 
Aos poucos, aprendeu a viver e sobreviver ao 2°ciclo.
Sempre lhe disse que queria que ele desse o seu melhor, que as notas eram importantes qb porque só não queria negativas. Sempre o fez. Trabalhou e estudou muito. Demasiado talvez. Houve sábados em que esteve 4 horas seguidas a estudar matemática.  Esteve um sabado inteiro a estudar inglês. É de uma concentração e força de vontade que me espantam. 
Teve sempre boas notas. A nota mais baixa foi um 68% e ficou triste e com medo de poder chumbar! 

Foi um primeiro período difícil para todos. Andei ansiosa mas aprendi que não havia necessidade porque é um miúdo responsável e com boa cabeça.  No processo dele, escreveu-se no final do ano "Aluno muito simpático. Autónomo. Fez uma boa evolução."
Para o ano há mais! 

2.Do Pedro
O Pedro sempre me preocupou na escola. Anda sempre no mundo dele.  Não ouve metade do que se diz. Não gosta nem um pouco de andar lá. Adora apenas os intervalos onde só joga futebol. No final do primeiro ano, lia mal. No 2°ano, em novembro, agendei uma reunião com a professora. Continuava com problemas graves de leitura e de escrita. Ela ainda veio com a conversa do que precisa de tempo e que se calhar, a mãe fazia comparações com o mano... Naquele momento, não queria pseudo sofás freudianos, queria respostas.  Não as tive...Resolvi passar à ação!
Alterámos a rotina de leitura. À noite, lia ele a história. Que horror. Foi um frete! Demorava muito tempo e eu quase sempre cansada, a fazer um esforço para não ler as coisas por ele e estar atenta... No carro, andou sempre com livros de adivinhas e anedotas para as poder ler em voz alta. Houve algumas em que não percebíamos uma única palavra que lia...
Foi frustante. 
Um dia, escreveu "querienssa". Queria dizer "criança". Agendei imediatamente uma reunião. Não cheguei a tê-la, pois a professora sinalizou-o como um aluno com possível dislexia e /ou outras dificuldades de aprendizagem. Fui chamada à direção que me falou de testes, avaliações, psicólogos e NEE's. Falámos também no seu crescimento anormal quando era recém-nascido e nas possíveis lesões (que não tenho em consideração). Tudo foi considerado possível. 
O meu coração ficou pequeno, pequeno. 
Tem amanhã a última sessão / avaliação no psicólogo. Veremos o que acontece. 
Está sempre muito ansioso no que diz respeito à língua/escrita. Na véspera da prova de aferição de português, disse-me que tinha medo. Acordou de 3 em 3 horas a chorar e a dizer que não ia conseguir e que tinha medo de chumbar. Fez xixi na cama.
Foi um ano difícil. Gerir as emoções e expetativas revelou-se complicado mas houve o futsal a trazer-lhe as alegrias que a escola tentou camuflar. Abençoado futsal.

3. Da Tella
Ainda me pergunto como sobrevivi à escola. Aos testes dos dois, aos problemas do Pedro e ao meu ano letivo, às minhas 8 turmas com 30/31 alunos, às minhas coordenações. Felizmente tive turmas maravilhosas e quando assim é, tudo é mais fácil. 

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