Livro 11 - 2020

"A Vegetariana" - Han Kang

Requisitei o livro porque a bibliotecária da minha escola mo sugeriu. Tinha gostado tanto que comprou um exemplar com o seu dinheiro para o ter na escola.
[Um aparte sobre a senhora. É a típica bibliotecária dos anos 60: camisa branca abotoada até ao pescoço, saia com godé abaixo do joelho, fio com uma cruz (essa é dedução minha), tailleur antigo. Está sempre a tentar ser transparente e subserviente, até na forma como se dirige a mim. Não tem idade: 30,40, 50 anos? Não faço ideia.
Daria uma personagem fantástica de um livro.]
Trouxe o livro para conhecer melhor aquela mulher, confesso. 

A autora é coreana, bastante conhecida ao que parece e o livro ganhou vários prémios.
É um livro desconcertante, sem dúvida. O livro está dividido em 3 partes, com 3 narradores diferentes, sendo que nunca ouvimos a personagem principal. São narradas pelo marido, o cunhado e a irmã. É a história de uma mulher que decide tornar-se vegetariana e do tumulto que tal decisão provoca na família.
 É uma mulher que não vive apesar de estar viva.  É um olhar sobre as pessoas que escondem as dores sofridas e que depois têm um colapso, neste caso uma anorexia nervosa mas que entra numa espécie de loucura calma, desligada. Há uma irmã que está ali, até ao fim e que percebe das fragilidades do ser humano e daquele ser humano. Há um cunhado que também vive vazio, agarrado à arte. Também se aborda a força masculina, bruta, o patriarcado e as suas consequências. 
É um livro com linguagem simples e com imagens fortes. É uma metáfora da vida feminina em Seul? No mundo? Da dor de não ser?
Não sei. Sei que me custou ler o livro, de chegar ao fim. Há livros onde queremos permanecer sempre, mas este não.  Queria sair dali, lendo-o na íntegra. Custou-me. 
Nem sei se gostei ou não. Dei-lhe 2 estrelas mas se calhar são 3 ou 4. Não sei o que achar. Há partes boas, outras más e há estranheza também. Muita (e não me estou só a referir às questões culturais coreanas).
[A bibliotecária deve sentir-se oprimida, sem vida, daí o gosto pelo livro. Sem a conhecer, tem muito a ver com ela. ]

Comentários

Anónimo disse…
Eu gostei imenso desse livro mas o outro livro dela que está traduzido (Atos Humanos) é ainda melhor (e mais desconfortável, talvez).
Maria do Mundo disse…
Ás vezes gostarmos ou não depende do momento em que lemos. Eu, neste momento, não consigo ler senão coisas leves.