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Livro 14/2025

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  Q uem tem medo dos Santos da casa , de Sara Duarte Brandão  O Nuno Duarte, autor de Pés de Barro , recomendou três livros numa entevista na Fnac: D.Quixote, O Retorno da Dulce Maria Cardoso e este, de Sara Duarte Brandão.   Como sabem, sou uma pessoa que se deixa influenciar por  bons escritores .  Podia agarrar o D.Quixote, mas ainda não chegou o momento dele... Neste Quem tem medo dos Santos da casa, a companhamos a vida de Maria Teresa, uma mulher que cresce numa vila junto ao rio, entre a austeridade de uma familia que a quer casada e a liberdade que encontra nos livros.  É uma narrativa simples, poética e introspetiva, com capítulos curtos, que nos mostram diferentes episódios da vida dela de forma anacŕónica.  3,5

Livro 13/2025

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" As três mortes de Lucas Andrade " de Henrique Raposo. Muito elogiado pela Filipa e pelo Luís,  resolvi dar uma chance a este livro, apesar do autor... Conta a história de um jovem que vive num subúrbio de Lisboa e da violência a que estão sujietos os seus habitantes,  nos anos 80/90, mas aborda também a pobreza e a violência nas aldeias, sobretudo contra as mulheres. A linguagem é sempre crua, sem artifícios. Fala da eterna luta entre o Bem e o Mal e como cada um de nós pode escolher que caminho trilhar, apesar do mundo que nos rodeia. Houve partes que achei repetitivas e demasiado longas,  sobretudo no início, mas outras que me prenderam bastante. Tem a cadência certa para nos prender e levar aos sítios mais tristes dos subúrbios e da alma humana.  " Talvez seja o maior espetáculo do mundo: ver gente normal a tentar ser decente no Inferno; ver pessoas a dar a resposta certa à pergunta fundamental- como é que se pode ser bom no meio da lama?" 4 estrelas. 
No r/c do meu prédio,  mora(m) uma (ou talvez duas) família(s) indiana(s). Quando me cruzo com eles ou com qualquer outro vizinho na verdade, cumprimento-os. Regra de boa educação oblige .  Há umas semanas, meti conversa com uma das mulheres que lá vive, grávida de 8 meses. Num inglês pouco confiante de ambas, disse-lhe que se precisasse de alguma coisa, que podia ir lá a casa. Ela sorriu. Na sexta, vi-a no terraço e perguntei se estava bem. Não me pareceu por causa da barriga grande, quase a rebentar a bolha, e do calor excessivo.  Hoje, vieram cá dar-nos doces porque somos sempre "simpáticos" com eles. Fiquei comovida.  Ser decente e bem educada com (todas, todas, todas) as pessoas é encarado como algo extraordinário, parece. Tempos estranhos os que vivemos...

Manuel Monteiro (1931-2025)

Regresso ao trabalho e à rotina depois de ter enterrado o meu último avô.   Já falei dele aqui . Era um homem com muita luz e muita escuridão.  Somos todos assim, mas a frase faz mais sentido nele. Nascido numa aldeia paupérrima do concelho de Vila Real, junto ao Douro, filho e neto de sarreiros (pessoas que trabalhavam à jorna retirando o sarro das pipas de vinho) -  sendo essa a alcunha da família - o meu avô parecia estar condenado a ser mais um miserável e a aceitar a vida que todos os seus antepassados tinham tido. Ainda criança, os pais mudam de região e vão trabalhar para Riba D'Ave (Braga).  Aluno exemplar na escola, passa o exame da 4a classe com distinção. O professor dele tenta convencer o pai a deixá-lo estudar ou a ir para o seminário.  Declina. Precisam de dinheiro e tem de trabalhar. O professor arranja-lhe um emprego diferente no Porto: trabalhar numa livraria. Com 10 anos torna-se homem: vive e trabalha numa livraria. Dizia-me ele que nunca...

Quando até a IA te diz quem és...

Submeti ao chat GPT os resultados clínicos de três sinais que removi na semana passada: " Trata-se de uma lesão benigna da pele, comum especialmente em pessoas de meia-idade ou idosas." O que vale é que a boa notícia supera a má, certo? 

Quando é que sabes que os teus filhos não são assim tão crescidos?

Quando, no dia do exame de Matemática A do 12°ano, o meu mais velho, ansioso com a prova, me diz que vai vestir a camisola da sorte... E sim, tambem eu pensei "mas ele tem uma camisola da sorte?"... (O exame não lhe correu propriamente bem. Conta ter entre 13,5 e 14,5/14,7, mas veremos.)

As mentiras que eles contam (e eu finjo acreditar)

" Mãe, aprendi a lição e não volto a beber álcool".
Estive em contacto, este fim de semana, com uma realidade diferente da minha. Lidei com miúdos de 17 e 18 anos, que deveriam estar no 12°ano, mas que estão no 9°ano,  incapazes de articular uma ideia ou uma frase sem nenhum palavrão e de uma forma gratuita, com discursos musculados ( "parto-os todos" ou "dou cabo dele"), perdendo a cabeça em segundos e recorrendo à violência, pois é a única forma que conhecem para resolver qualquer situação... São miúdos a quem a escola nada diz.  "Preciso da escola para quê? Não preciso da escola para nada, caralho. "  São miúdos, digo eu do alto da minha arrogância de quem vive numa bolha com mais sorte, sem grandes perspetivas de futuro. Ao lidar com eles, só me ocorriam três coisas. Primeiro, reconheci a  sorte que tenho por ter filhos como os meus, que longe de serem perfeitos, sabem estar. Tudo na vida é relativo...  De seguida, também reconheci a sorte que tenho em ser professora num contexto privilegiado, onde os ...

Ainda sobre "Pés de Barro"

Ando ainda fascinada com o livro "Pés de Barro" de Nuno Duarte. Já ouvi não sei quantos podcasts com o autor, já lhe enviei mensagem (e obtive resposta super simpática!) e já vi um documentário sobre a construção da ponte.   O autor, para além de escrever muito bem e de ter criado o excelente romance, é uma pessoa de bem, com os valores certos.  Estou mesmo fã. Já falei tanto dele, que tenho 5 colegas a ler o livro... Vale muito a pena. 

Livro 12 de 2025

 " Levarei o fogo comigo" de Leila Slimani Este é o terceiro livro sobre a saga familiar de Mathilde, a alsaciana que casa com um marroquino no 1° volume no "País dos Outros".  Neste, seguimos sobretudo a vida das netas, nascidas em Marrocos, mas educadas de acordo com os valores franceses, e da busca delas pela liberdade. Gostei muito da descrição de Marrocos, da cultura marroquina e das pessoas de lá.  (Lembrei-me dos meus vizinhos marroquinos, em França, do Kader e da Leila, e dos hábitos dele...) Querem saber quem são e de onde são. " Podemos ser ao mesmo tempo, daqui e de lá?"
Fui deixar o meu mais velho na escola para fazer o exame de Português do 12°ano.  Ele estava calmo e confiante. Apostou muito em Pessoa e disse-me no carro " A ter de analisar um poema, gostava que fosse Ricardo Reis ." Veremos. Estou aqui com um apertozinho no peito.