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A mostrar mensagens de março, 2020

Coisas boas* do isolamento social - I

A blogosfera está mais movimentada.  [*...porque é importante olhar para o copo e vê-lo meio cheio.]

Dia 15

Constato que comemos todos muito e que grande parte das compras feitas há poucos dias já se foram. Vesti umas calças hoje que me estão apertadas. Deixei o fato de treino e na minha primeira aula online, achei melhor colocar base. Sou de uma insegurança que até mete dó.  O frete que é fazer almoço e jantar todos os dias. O problema nem está na sua confeção mas na sua organização. Aquela eterna questão "o que fazemos para o almoço? E para o jantar?" irrita. Jamais seria dona de casa. Não nasci para isso.  A situação do pai cá de casa não ajuda à neura, que hoje está alta. Causa-me um certo aperto no peito mas vou continuar a crer que os unicórnios existem e que vai tudo correr mais ou menos bem.  Quando olho pela janela, ao acordar, tenho sempre vontade de sair, para tentar encontrar uma vida normal onde acordo às 6h40, stresso logo pela manhã, repito no elevador "vá, vamos" enquanto olho para os meus filhos e penso "coitados, é tão cedo"

Dia 14

Mais do mesmo + o jogo da sueca em que os sacaninhas ganharam a primeira ronda.  [Aqueles miúdos, por vezes, são tão excessivos quando ganham: urros e  cânticos de vitória "é tudo nosso e será sempre nosso!".] Fizemos quase a mesma coisa quando ganhamos a segunda ronda. Mas com estilo.

Dia 13

Entre o sofá e a mesa, pouco fiz. Vi televisão:  -descobri que aquele hit de verão, dos bailaricos da terra "o meu nome é Rebeca e o teu qual é? oié oiá" é cantado por uma senhora de idade avançada quando achava que era de uma miúda toda turbinada; - Vi um filme na Sic super lamechas e até papei com os intervalos longos sem mudar de canal, sabendo que tinha mil coisas mais interessantes para ver; - Vi um programa de televisão em que os netos fazem surpresas aos avós.  Não sei se é da idade, de ser choninhas, de estar fechada cá em casa ou do jantar bem regado, mas pronto, emocionei-me com os miúdos a proporcionarem coisas bonitas aos avós, gostei do filme de segunda categoria e bati o pé com aquela música.  Meu deus, que já estou a ficar toda queimadinha.

Dia 12

Hoje foi um dia em que me senti a esmorecer. Há dias assim. Entretanto encomendei vitamina D em gotas para os miúdos tomarem. Hoje tive uma ideia genial: ir passear o cão da vizinha para podermos apanhar sol e ar fresco. Amanhã começamos. 

Dia 11

Voltei a vestir roupa sem ser fato de treino mas continuo feliz e contente sem soutien. Os meus filhos não vão à rua há 13 dias. O Pedro está tão pálido que até faz confusão.  Dizia-se que íamos ter tempo para ler e ver séries mas não, afinal não temos. A televisão, que nunca era ligada, passou a ser ruído de fundo ao jantar. Os números e imagens do que acontece lá fora, assustam-me.  O terramoto continua mas estamos a fingir que ele  não nos atingiu porque queremos crer que ele se vai dissipar no ar.

Dia 10

Fomos comprar vinho, entre outras coisas. Fui hoje pela primeira vez às compras desde que tudo isso começou. Que paranóia a minha. Estava demasiada gente no Lidl. Achei que só deixavam entrar 3 pessoas mas não, éramos muitos, demasiados. Comecei a ficar stressada com as pessoas que não me davam espaço. As pessoas não percebem o que é distância social. Açambarquei muito vinho e alguma comida, não com medo de que falte mas para não ter que ir comprar nada durante, pelo menos, os próximos 12 dias. Saí a olhar para as mãos e a pensar se estava contaminadas. Quase que sentia que sim... Li o post da Carolina, que me entristeceu. Escreve sempre aqueles post que eu gostava de ter escrito (mas que não consigo, claro) e que me tocam muito. Consegue chegar ao cerne da coisa com muita perspicácia e emoção.  Passei a manhã toda a dar aulas e foi bom (e cansativo). Desliguei das burocracias, das reuniões e dos emails. Nessse aspeto, vou passar a acenar e sorrir como diz o pinguim (do des

Dia 9

O dia 9 ainda vai a meio e já sinto necessidade de dizer que vou ensandecer com tanto trabalho. Mesmo. O meu dia começou às 7h20 e entre uma aula online, 7 turmas na plataforma, reunião de coordenação, responder a não sei quantos emails e fazer mais de 30 chamadas para colegas desesperados que me dizem "estou a dar em louco" ou "estou quase a chorar", achei que devia parar, beber um copo de vinho e dizer-vos que os professores, tão pouco valorizados, estão a dar o litro para fazerem o melhor que conseguem, mesmo quando, se calhar, ficam aquém das vossas expetativas. Estamos  a colocar os miúdos em primeiro lugar, mesmo quando acham que não estamos a fazer bem as coisas. Sei que há um médico e um professor em cada um de nós, mas a sério, estamos mesmo a fazer o melhor que conseguimos. Tentem não criticar-nos porque neste momento, a Escola está meio à deriva e estamos aguentá-la para chegar a bom porto. Podem e devem dar sugestões mas não pensem que estamos de férias

Dia 8

Mais do mesmo.  45 minutos de "this killer torches calories" , mas os outros 3 cá de casa desistiram. Uns meninos, baaah! A gravação deles continua e é feita à porta fechada. Fartei-me de ligar para colegas, eu que detesto falar ao telemóvel. Reparei que sou uma bruta ao telefone. Não pergunto como está a família ou assim mas peço sempre desculpa pelo incómodo. Obrigo-me a fazer conversa de circunstância quando me lembro mas na verdade, não me interessa nada. Quero despachar o telefonema e pronto.  Tirando isso, nada a acrescentar. Quer dizer, temos de ir às compras amanhã ou depois, que o vinho está a acabar e sem vinho, não aguentamos. 

Dia 7

O Pedro esteve online, numa video-conferência com quase toda a turma no Zoom e disse-lhe "Eu já tenho saudades da escola. Fazia menos fichas do que agora". Continuam a gravar o telejornal. O quarto do Pedro foi transformado numa espécie de estúdio com a ajuda do pai cá de casa: há microfones, luzes, câmaras, tripés e uma parede verde para pôr posteriormente um efeito de fundo. [O parágrafo seguinte contém spoilers.] Acabaram o filme chamdo "O Isolamento" e fiquei espantada pela edição. Não estava à espera de tanto. O filme tem um toque de Shakespeare, pois a quarentena acaba um segundo após a morte das personagens.  Tivemos um dos melhores almoços de 2020. Foi divertidíssimo. Começámos às 13h30 e saímos da mesa as 16 e tal. Ter tempo é uma dos nossos maiores bens.  O stock de vinho está a chegar ao fim. 

Dia 6

Um sábado diferente e igual a tantos outros. Um sábado igual a tantos outros:  Não há horas para acordar. Cada um toma o pequeno-almoço a horas diferentes. Arrumámos a casa. Almoçámos e jantámos juntos. Bebemos muito vinho ao almoço. Adormeci no sofá depois do almoço (pois...). Vimos uma série a 4.  Lemos.  Ouvimos música. Mexemos nos telemóveis.  Rimos. Gritámos. Falámos. Abraçámos.  Um sábado diferente dos outros: Não fui correr.  Não houve futsal. Houve ginástica em família em frente à televisão. Deitámo-nos tarde. Houve reunião via zoom com os colegas para trocarmos experiências com uma semana de aulas não presenciais.( Que bom.) Demos a conhecer o Herman dos anos 80 e 90 e eles não acharam graça.  Não fomos comprar fruta e legumes. Não fomos à rua. O pai arrumou a despensa de tal forma  que faria a Marie Kondo bater palmas de contentamento.

Livro 11 - 2020

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" A Vegetariana" - Han Kang Requisitei o livro porque a bibliotecária da minha escola mo sugeriu. Tinha gostado tanto que comprou um exemplar com o seu dinheiro para o ter na escola. [Um aparte sobre a senhora. É a típica bibliotecária dos anos 60: camisa branca abotoada até ao pescoço, saia com godé abaixo do joelho, fio com uma cruz (essa é dedução minha), tailleur antigo. Está sempre a tentar ser transparente e subserviente, até na forma como se dirige a mim. Não tem idade: 30,40, 50 anos? Não faço ideia. Daria uma personagem fantástica de um livro.] Trouxe o livro para conhecer melhor aquela mulher, confesso.  A autora é coreana, bastante conhecida ao que parec e e o livro ganhou vários prémios. É um livro desconcertante, sem dúvida. O livro está dividido em 3 partes, com 3 narradores diferentes, sendo que nunca ouvimos a personagem principal. São narradas pelo marido, o cunhado e a irmã. É a história de uma mulher que decide tornar-se v

Dia 5

Pouco há a dizer. Mais do mesmo: eu de fato de treino (Mary, para a semana é que tento mudar de roupa), os putos a receberem o trabalho dos professores e a editarem o filme, o pai cá de casa nas suas traduções e formações, enquanto trata da despensa, eu a stressar com as novidades e as ausências, a fazer muitos telefonemas e a não deixar falar quem está do outro lado, segundo me conta o pai cá de casa, que fica com olhar atónito a olhar para mim e a dizer "menos". Pareço uma cabra ao que parece, mas há momentos em que acho que tenho mesmo razão... Comecei a embirrar com todos, con aquela postura passivo-agressiva Depois, li as dicas Mary [ver comentário do post  abaixo], o pai cá de casa deu-me um abraço a dizer "tens de beber uns copos e correr!" e pensei que ambos tinham razão.   Fui (sozinha). Desci e subi pelas escadas e abri a porta da rua com lenços de papel. Que loucura. Começou a chover e foi ótimo e libertador. Foram 5 km em 30 minutos e soube bem. 

Dia 4

Muito trabalho. Nunca pensei que isso fosse acontecer. Nunca pensei que dava menos trabalho estar numa aula com 30 alunos do que em teletrabalho. Li aquelas regras básicas para quem trabalha em casa e falho quase todas. 1) "Vista a roupa com a qual devia ir trabalhar. Arranje-se como se fosse para a rua". Tendo em conta que vivo num bairro popular, pró brega, decidi adotar o estilo: fato de treino cinzento, com algum borboto, a condizer com uma sweat larga com capucho. Achei que não devia exagerar nos acessórios e vá, não usei o cap tão na moda por cá.  2) "Tenha um espaço só para trabalhar e só para si" . 5 PC , 4 pessoas e uma mesa. Isso. 3) "Tenha sempre a casa organizada". O pai cá de casa decidiu reorganizar a despensa entre uma tradução e uma reunião por vídeo conferência. Resultado: quel bordel! Há  2 dias que o meu corredor se parece com a feira da ladra, pois o trabalho não tem parado. Em calhando acaba-se a quarentena e continua a tralha armada.

Dia 3

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Ontem estivemos os 4 a trabalhar. Estive sempre ligada aos meus alunos e aos meus colegas. Tive muito trabalho e cheguei à conclusão que dar aulas presencialmente exige menos do que assim, através de um PC, respondendo um a um às suas dúvidas. Tenho 210 alunos, mais coisas menos coisa. Pfff. Tenho de me organizar mas eu não sou muito boa nisso. Os miúdos começaram a trabalhar e o Pedro, ao fim de pouco tempo, já perguntava "posso fazer uma pausa?".  O Tiago está focado na ficha de matemática e ocupa-lhe muito tempo. Obrigada professora V.! O dia foi trabalho e trabalho. Estivemos,  o pai cá de casa e eu, em vídeo-chamada ao mesmo tempo, na mesma mesa de trabalho. Senti o que é trabalhar num open space. Fiz uma vídeo-chamada para os meus pais que acabou em choradeira. Mostrei-lhes a minha preocupação com o que estava a acontecer, o meu pai respondeu-me "não podemos ter medo. Não, filha, não podes." com a voz emocionada, os olhos cheios de lágrimas, m

Dia 2

Os grupos de whatsapp estão ao rubro.Tive de tudo: os vídeos em vez das mensagens escritas, as mensagens áudio ( Mensagens áudio? Nunca percebi o conceito), os memes que já me cansam, os áudios forjados que alguns ainda me enviem e me fazem revirar os olhos, as dúvidas sobre a plataforma "classroom" , as fotos deste ou daquele, as mensagens "uma chama de esperança " daquela colega, (reviranço de olhos, de novo), os grupos reativados depois de um longo período de ausência (e hoje foram 3), a simples mensagem diária daquela amiga só a dizer "babe, tudo fixe? Aqui, ok", a partilha de coisas sérias e preocupantes, a conversa parva só para desanuviar and so on . Acho que passei a manhã toda, que começou às 6h40 - há um relógio natural em mim, filho da mãe  - agarrada ao whatsapp. Hoje devo ter trocado mais de 500 sms. E assim cheguei rapidamente à parte da tarde. Deixei trabalho para a semana toda aos meus alunos. Recebi mensagens deles e dúvidas. Parecem ent

Dia 1

Acordei às 6h30 e fui correr 5 km. Não me cruzei com ninguém àquela hora. Tendo em conta que tinha de ir trabalhar, achei que podia ir correr cedo. À caminho da escola, reparei nas ruas desertas e achei que devia estar em casa mas enfim, tem de ser. Terei de voltar ao trabalho na quinta ou sexta. Regressei à casa por volta das 14h. Acabei de corrigir os meus testes e preparei as aulas do 7°ano para disponibilizar na plataforma. Pôr a trabalhar alunosà distância quando nem sempre o consigo fazer presencialmente... Novo desafio, este. Os miúdos gritaram, fizeram barulho, fizeram vídeos, maquilharam-se, viram netflix, jogaram PS2 mas também limparam a cozinha e trataram da roupa. Menos mal. Andam a fazer um vídeo/ filme sobre o isolamento. Quando o estão a editar, isolam-se no quarto. Menos mal também. À noite, viram com o pai cá de casa aquele clássico "Rocky". O pai cá de casa a cumprir o papel de pai. Não falha.  No dia 1, o pai passou-se com o barulh

Livro 10 - 2020

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"Luanda Lisboa Paraíso " de Djamila Pereira de Almeida. Este livro conta a história de Aquiles, um rapaz que nasce com uma deformação no calcanhar, do seu pai, Cartola e da sua mãe, que vive presa a uma cama desde o nascimento do filho. Vivem em Luanda. Pau e filho embarcam para Lisboa para que Aquiles seja operado e fique sem nenhuma deformidade.  Numa Lisboa cinzenta, estão ao abandono, desamparados e sem nada. Vivem numa grande pobreza. Depois de um logo internamento, acabam no bairro de lata "Paraíso" onde, apesar da pobreza e do abandono, existe alguma esperança. No livro, a esperança, de mão dada com a pobreza, espreita em cada canto.  O livro tem passagens muito bonitas, muito bem escritas. Conseguimos perceber as dificuldades pelas quais a diáspora angolana passou nos anos 80: a fome, o abandono, a pobreza, o trabalho nas obras, etc. Há reflexões sobre a vida que mercem ser sublinhadas mas apesar disso tudo, o livro vai perdendo interesse porque as personage

1986

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Acabámos de ver a série portuguesa 1986. Feita a introdução necessária para perceberem o contexto da série: Esquerda ("esquerdalha", "bochechas", "Soares é fixe") e Direita ("fascista ", "facho", "Para frente Portugal "), os miúdos adoraram e eu também. Está muito bem escrita e há expressões muito boas e referências aos filmes e músicas muito giras. O Tiago até enviou uma mensagem ao Nuno Markl a dizer que tinha adorado.  Mais uma boa série para ver em família agora nestes dias de quarentena.  Disponível na RTP Play.

Livro 4 - Tiago

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Diz que este é um dos melhores da saga. Deu-lhe 5 estrelas. [Requisitou o livro na biblioteca mas perdeu-o no autocarro. Teve de ir comprar um com o seu dinheiro para repor na biblioteca.] Está agora aborrecido porque as bibliotecas estão fechadas e não tem como requisitar o próximo volume. Se não houver nenhum exemplar na escola, disse que o ia comprar. 

Run Tella, run

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O Louzantrail decorreu hoje. Embora tenha corrido apenas 11 km (que na verdade foram 11,800 km) e não os 18 km a que me tinha proposto correr no dia 1 de dezembro, estou muito satisfeita com tudo.  Percebi que tive saudades de varias coisas, como por exemplo do acordar cedo para ir correr, mas sem stress ou frete, diferente do acordar cedo para ir trabalhar, of course.  Também gostei de sentir aquele nervoso miudinho, que me fez dormir mal a noite toda e que me fez respirar fundo muitas vezes quanto mais me aproximava da Lousã.  A excitação que antecede a partida: uns a esquecerem, outros a cantarem, a esticarem músculos, a tirar selfies ou a respirarem fundo. Mas é uma sensação gira que pára mal começamos a correr. Que adrenalina.  Depois, há uns segundos ou minutos, não sei precisar, em que não ouço nada ao meu redor. Apenas me oiço respirar para tentar acertar o passo. Nesse momento, quase que estou numa bolha e sinto quase vontade de estar virada para dentro

Quando é que sabes que tens filhos crescidos? XL

Quando o teu filho mais velho é convidado para o almoço de anos de uma amiga "especial" e ele decide comprar-lhe, com o seu dinheiro, várias prendas num total de 30 euros porque ela, lá está, "merece"...

Notas soltas

Naqueles dias em que saímos às 7h40 e chegámos às 18h30, sabendo que há gente bem pior do que nós e que até somos uns sortudos, I know, fico sempre a pensar que, porra, valhem-me os livros, a corrida ou um copo de vinho para descomprimir.  

Ai, que já estou a ficar nervosa...

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Está quase.  Inscrevi-me nos 18km mas a minha ida à terra no Carnaval fez-me ver que não estou em forma para correr na Lousã uma distância tão grande. Alterei a minha inscrição para os 11km. Fiquei menos stressada, mas acho que vai ser muito difícil.  Está quase...

Livro 6 - Pedro

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Gostou do livro e deu-lhe 4,5 estrelas. [Anda preocupado com a doença do autor. "Ele não pode morrer porque eu gosto dos livros dele." ]