Dia 1

Acordei às 6h30 e fui correr 5 km. Não me cruzei com ninguém àquela hora. Tendo em conta que tinha de ir trabalhar, achei que podia ir correr cedo.
À caminho da escola, reparei nas ruas desertas e achei que devia estar em casa mas enfim, tem de ser. Terei de voltar ao trabalho na quinta ou sexta.
Regressei à casa por volta das 14h. Acabei de corrigir os meus testes e preparei as aulas do 7°ano para disponibilizar na plataforma. Pôr a trabalhar alunosà distância quando nem sempre o consigo fazer presencialmente... Novo desafio, este.

Os miúdos gritaram, fizeram barulho, fizeram vídeos, maquilharam-se, viram netflix, jogaram PS2 mas também limparam a cozinha e trataram da roupa. Menos mal. Andam a fazer um vídeo/ filme sobre o isolamento. Quando o estão a editar, isolam-se no quarto. Menos mal também. À noite, viram com o pai cá de casa aquele clássico "Rocky". O pai cá de casa a cumprir o papel de pai. Não falha. 

No dia 1, o pai passou-se com o barulho deles. "Não me consigo concentrar" gritou ele enquanto faz coisas no PC em teletrabalho. Está tão lixado.

Tive uma espécie de delírio. Não tenho grande medo do vírus ou da doença mas gosto de fazer filmes. Imagina que...
Sim, imagina que a quarentena perdure durante meses. A sociedade não aguenta. Dá-se o caos. [A propósito, vou reler o "Ensaio sobre a Cegueira " do Saramago.] E então? Já temos um acordo: ele terá sempre de salvar -se e salvar os miúdos. Sempre. 
Ele revirou os olhos e encheu-me mais um copo de vinho, tipo bebe e cala-te. Menos mal, pensei eu.

Comentários

carolina disse…
O meu ensaio sobre a cegueira está enterrado... continua a ser até hoje um dos livros que mais me perturbou.
Tella disse…
Ainda me lembro quando o acabaste de ler. Estavas na mesa do canto na Seomara.