Relato da bola - o futsal

Aí, coração de soccer mum sofreu tanto no domingo. Os nossos vs. Benfica. 
É certo e sabido que os nossos encaixam muitos golos do Benfica (e do Sporting). O Pedro já levou 5 ou 6 golos em menos de 10 minutos há muitos anos.
Neste, aqui, o Pedro é o único guarda-redes convocado: os outros estão confinados ou fora de Lisboa. 
Eu, mãe positiva, digo-lhe "filho, quando a bola chega à tua baliza, já passou pelos restantes colegas que também não fizeram nada de jeito. Até 15 golos levados, é vitória. ". Ya, eu sei, sou pró em manter as expetativas baixas.

Lá fui para o jogo, nervosa, "meu rico filho". Ainda na semana passada, nos últimos segundos, sofreu um golo que deu a vitória aos adversários e meteu dó vê-lo assumir a derrota da equipa, em lágrimas. Raios parta mais a ingratidão do lugar ou da posição ou lá como se diz na gíria futebolística. 

Lá entraram em campo e o meu de braçadeira de capitão ao braço. Todos nervosos e sem grandes ilusões. Os pais, entenda-se. Um pai levou um tambor para acompanhar os cânticos "para os animar quando forem muitos."
1 minuto de jogo e... pumba, marcamos. Eh lá,  já tínhamos ganho. Euforia total nas bancadas. Foi assim lindo.
 Minutos depois, o Pedro faz uma defesa brutal, tipo "strike the pose", mas na recarga leva um. E depois leva outra. E outro. Serão apenas 3 golos sofridos. Defendeu dezenas e dezenas de bolas. O maior. Uma confiança acima do normal, aquele meu filho. A gritar com os colegas, a incentivar os colegas. Como é possivel não reconhecer o meu Pedro naquele Pedro? 
Estamos a perder por 2-3, apenas. Penalti assinalado a nosso favor, mas o baliseiro adversário é muito bom e defende. É o Pedro, capitão à lá "safoda", que vai ter com o colega e que o reconforta. E acredita. "'Bora, bora, bora". Os miúdos do Benfica estão desorientados com tantos ataques nossos. Nunca perderam. Não estavam à espera de uma equipa tão unida e forte. Sentem que podem perder o jogo. Não sabem perder porque nunca perderam. Perdê-lo-ão no último minuto. O Pedro coloca a bola por trás dos defesas (como é aquele miúdo, um sem percentil durante anos e anos, tem força de braço para colocar a bola onde quer e ali tão longe?). Um colega que tinha antecipado a jogada dele, chega à bola e pica-a para um outro demarcado, que  marca de cabeça. 
Empate, ou seja, vitória! 3-3 e o jogo acaba. Não há invasão de campo porque estamos no futsal e estamos por cima do campo. É o delírio de todos. O pavilhão é demasiado pequeno para tanto orgulho. 
É um dia feliz para as crianças. As de encarnada choram copiosamente. Custa sempre a primeira vez. 

Senti sempre o coração a galopar dentro de mim, com receio que ele levasse mais do que 15 golos e que a sua auto-estima se ressentisse. Nada disso aconteceu.
Podia ser um script de um filme: um clube bairrista, com marcha popular, do povo, ganha ao gigante do futsal que vai buscar todas as crianças talentosas aos clubes pequenos, nem que seja para as deixar no banco. Todas? Não! Algumas resistem ainda e sempre e sem poção  mágica, apenas com querer. 

Mãe,  aprende e acredita. 

(E sim, já houve contactos de gigantes de futebol...)

Comentários

Carolina disse…
Olha, até estou em lágrimas! Grande Pedro! 💪🏻
Mary QA disse…
De soccer mum para soccer mum, fiquei de lágrimas nos olhos também! Que ensinamentos levam eles para vida com experiências com esta? Tantos, tantos, caramba.
Que fixe!
(esse bora, bora e o ir confortar o colega são para mim o melhor de tudo!)