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Livro 18/2025

 "O tempo entre costuras" de María Dueñas. Foi recomendado pela Vera, que me disse "é um livro leve, que se lê bem". Acrescentou ainda qualquer coisa como "nem tudo tem de ser profundo". Ou terá dito "intelectual"?  Sabia, portanto, ao que ia. Depois de ler "A Sibila", quis algo leve, fácil, um turn page .  Encontrei o que procurava.  É uma espécie de romance histórico, com a guerra civil espanhola e a 2a guerra mundial como pano de fundo, e uma espécie de livro de espionagem.  Uma mulher, só e abandonada por um homem, monta um atelier de haute couture e, às tantas, torna-se espia ao serviço da sua Majestade...  A leitura flui rápido, com uma linguagem fácil. Entretem,  apesar dos clichés, de coisas previsíveis e da personagem principal ser perfeitazinha, e sobretudo quando estamos de férias. 3 estrelas.

Livro 17/2025

 "A Sibila" - Agustina Bessa-Luís. É um romance difícil de ler. Precisei de calma, tempo e paciência.  Lê-se muito lentamente por causa da história que tem momentos contemplativos e por causa do vocabulário, dificil, muito rural, exigente, quase a fazer lembrar Aquilino Ribeiro.  O livro gira em torna da Quina, mulher forte,  como são as mulheres desse livro, e determinada, que administra bem a quinta da família.  De uma forma quase simples e quase a parecer uma conversa, várias personagens são apresentadas através de determinados episódios. Vamos contemplando a vida deles, percebendo toda as características humanas... Quis desistir do livro várias vezes. Comecei e acabei outros pelo meio, mas voltei sempre à Sibila porque quis saber o que mais iria acontecer, que evolução iria sofrer Quina e que desfecho para o Custódio...  Quando estava no 12°ano, este era um dos livros de leitura obrigatória.  Eu li "A Aparição" de Vergílio Ferreira, mas sempre com ...
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 A casa da minha avó Aida foi vendida. Fomos lá e cada um trouxe o que quis.  Trouxe duas caixas de documentos antigos, que queriam pôr no lixo! Ainda só abri uma e já encontrei a certidão de nascimento do meu bisavô de 1905. (Tinha encontrado a cópia online e tenho agora a original. Estou doida de felicidade e de excitação.). Nessa caixa também constam as duas escrituras da compra da casa que é agora vendida. Uma é de 1915 e foi comprada pelo avô da minha avó e a outra de 1959 comprada pelo meu avô aos herdeiros por 3105 escudos.  Há um documento anterior à implantação da República,  mas está muito danificado e não consigo, por enquanto, perceber nada. Os selos estão, no entanto, em bom estado. Incrível.   Que bela herança! Sinto que me saiu a sorte grande. 

Alea jacta est

O meu mais velho já está inscrito no ensino superior. Não deve entrar nas 4 primeiras opções. Diz ele que entra na 2a fase nessas.  Escolheu o que quis porque disse - e bem - " Não é o que tu queres. É o que eu quero! "

Coisas que os meus pais não fizeram e eu faço*

Quando me inscrevi no ensino superior, não pedi opinião aos meus pais. Sei que falava muito com as colegas da turma sobre o assunto. Os meus pais nem sabiam bem por que razão não queria ir trabalhar e ganhar dinheiro. A faculdade era para os filhos dos outros.  Escolhi sozinha. Entrei, fiz a licenciatura e trabalho há mais de 20 anos e, ainda hoje, os meus pais não sabem que licenciatura tirei nem em que faculdade. Neste momento, estou a imprimir planos de estudo, a ver médias, a ver taxas de empregabilidade, a ler comentários sobre licenciaturas  e quase, quase, quase a querer escolher o curso para o meu filho. De repente, depois de falar com várias pessoas e de ler muita coisa, acho que ele deveria ir para Gestão de Marketing.  Perguntas:  Os pais de hoje em dia nada têm a ver com os de outrora?  Eu é que sou completamente diferente dos meus pais?  Ou estaremos a criar uns filhos cada vez menos autónomos e totós? Pois.. * Roubado à MaryQA

Já tenho uma certa idade...

Há quanto tempo é que uso a expressão para me desculpar de forma diplomática,  sem ferir susceptibilidades, e/ou para disfarçar inseguranças e desconhecimento ? São coisas assim do género: - Cafezinho às 16h?  - Não dá.  Já tenho uma certa idade e depois não durmo... - Queres ir beber uma imperial?  - Não dá. Já tenho uma certa idade, preciso de descansar... - Lanchar um bolo?  - Não dá. Já tenho uma certa idade e depois fico toda go...cheia. - Não queres usar essa saia, que te fica tão bem e que...?  - Já tenho uma certa idade, please!  - Vamos dançar a noite toda? - Não dá. Já tenho uma certa idade e acordo invariavelmente às 7h30 da manhã, independentemente da hora de deitar. -É sábado, "bora? - Não dá. Já tenho uma certa idade e quero ver o Markl e o Vasco na RTP.  - O que significa "Fomo"? É que tenho uma certa idade... - Posso dizer o que quero...Já tenho uma certa idade! - Como se liga a box com os canais descodificados através do sistema x...

Os pequenos prazeres de quem não vai para nova...

Fui a uma consulta de rotina.  Ao ver o meu eletrocardiograma, o médico exclamou: - O seu coração é uma máquina! Faz desporto, certo? Depois olhou para as minhas análises e acrescentou:  - Muito bem! Parece uma jovem de 35-40 anos! Preciso de pouco para ter um dia bom, com bandeira verde, como diz o Bruno Nogueira. 

Livro 16/2025

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 A Praça do Diamante  de Mercè Rodoreda A Sofia e a Raquel falaram-me bem deste livro, que aborda a vida de uma mulher simples, Natália, durante a guerra civil espanhola. Gostei muito, muito.  4 estrelas. "E entre dois goles de café ainda me disse que a história era muito melhor lê-la nos livros do que escrevê-la a toque de canhão ". 

Livro 15/2025

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 " As herdeiras" - Aixa de la Cruz  Quatro netas encontram-se na casa da avó seis meses depois desta se ter matado.  É um livro que aborda temas interessantes como a fronteira entre a sanidade e a loucura ou a solidão, mas há um momento em que fala de almas e cenas metafísicas e tem um fim que achei ...infeliz.  3 estrelas ou 2,5. 
O mundo acontece, segue e avança. As pessoas sorriem, contam coisas que não oiço. Parece que estamos em apneia, suspensas a uma coisa que não sei mencionar. Saíram os resultados dos exames do 12º ano e até eu que sou a mãe de expetativa baixa, fiquei sem chão. Ele já me tinha avisado que o exame de Matemática tinha corrido mal, que precisava de ir à 2ºa fase, mas achei que o mal fosse um 13. Não. Foi um 11,5. De repente, todo o trabalho (e foi muito) de 3 anos, mais o exame de Economia do 11º ano (teve 19,4) desaparecem. Aquele 11,5 engole-lhe a média e deixa-o à porta do curso para o qual se empenhou muito.  É um rapaz otimista, mas aquela nota, afixada entre dezenas de 19, 17 e 18's deixou-o ko. À volta, todos acenam, felizes e contentes, como ele terá feito no ano passado. Ele não reage. Eu também não. Ele não sabe o que fazer. Eu também não. Parecemos tontinhos. Ele chorou. Eu emparei as lágrimas dele. Tenho um nó na garganta, que só desatou com pessoas improváveis. Estamos der...

Livro 14/2025

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  Q uem tem medo dos Santos da casa , de Sara Duarte Brandão  O Nuno Duarte, autor de Pés de Barro , recomendou três livros numa entevista na Fnac: D.Quixote, O Retorno da Dulce Maria Cardoso e este, de Sara Duarte Brandão.   Como sabem, sou uma pessoa que se deixa influenciar por  bons escritores .  Podia agarrar o D.Quixote, mas ainda não chegou o momento dele... Neste Quem tem medo dos Santos da casa, a companhamos a vida de Maria Teresa, uma mulher que cresce numa vila junto ao rio, entre a austeridade de uma familia que a quer casada e a liberdade que encontra nos livros.  É uma narrativa simples, poética e introspetiva, com capítulos curtos, que nos mostram diferentes episódios da vida dela de forma anacŕónica.  3

Livro 13/2025

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" As três mortes de Lucas Andrade " de Henrique Raposo. Muito elogiado pela Filipa e pelo Luís,  resolvi dar uma chance a este livro, apesar do autor... Conta a história de um jovem que vive num subúrbio de Lisboa e da violência a que estão sujietos os seus habitantes,  nos anos 80/90, mas aborda também a pobreza e a violência nas aldeias, sobretudo contra as mulheres. A linguagem é sempre crua, sem artifícios. Fala da eterna luta entre o Bem e o Mal e como cada um de nós pode escolher que caminho trilhar, apesar do mundo que nos rodeia. Houve partes que achei repetitivas e demasiado longas,  sobretudo no início, mas outras que me prenderam bastante. Tem a cadência certa para nos prender e levar aos sítios mais tristes dos subúrbios e da alma humana.  " Talvez seja o maior espetáculo do mundo: ver gente normal a tentar ser decente no Inferno; ver pessoas a dar a resposta certa à pergunta fundamental- como é que se pode ser bom no meio da lama?" 4 estrelas. 
No r/c do meu prédio,  mora(m) uma (ou talvez duas) família(s) indiana(s). Quando me cruzo com eles ou com qualquer outro vizinho na verdade, cumprimento-os. Regra de boa educação oblige .  Há umas semanas, meti conversa com uma das mulheres que lá vive, grávida de 8 meses. Num inglês pouco confiante de ambas, disse-lhe que se precisasse de alguma coisa, que podia ir lá a casa. Ela sorriu. Na sexta, vi-a no terraço e perguntei se estava bem. Não me pareceu por causa da barriga grande, quase a rebentar a bolha, e do calor excessivo.  Hoje, vieram cá dar-nos doces porque somos sempre "simpáticos" com eles. Fiquei comovida.  Ser decente e bem educada com (todas, todas, todas) as pessoas é encarado como algo extraordinário, parece. Tempos estranhos os que vivemos...

Manuel Monteiro (1931-2025)

Regresso ao trabalho e à rotina depois de ter enterrado o meu último avô.   Já falei dele aqui . Era um homem com muita luz e muita escuridão.  Somos todos assim, mas a frase faz mais sentido nele. Nascido numa aldeia paupérrima do concelho de Vila Real, junto ao Douro, filho e neto de sarreiros (pessoas que trabalhavam à jorna retirando o sarro das pipas de vinho) -  sendo essa a alcunha da família - o meu avô parecia estar condenado a ser mais um miserável e a aceitar a vida que todos os seus antepassados tinham tido. Ainda criança, os pais mudam de região e vão trabalhar para Riba D'Ave (Braga).  Aluno exemplar na escola, passa o exame da 4a classe com distinção. O professor dele tenta convencer o pai a deixá-lo estudar ou a ir para o seminário.  Declina. Precisam de dinheiro e tem de trabalhar. O professor arranja-lhe um emprego diferente no Porto: trabalhar numa livraria. Com 10 anos torna-se homem: vive e trabalha numa livraria. Dizia-me ele que nunca...

Quando até a IA te diz quem és...

Submeti ao chat GPT os resultados clínicos de três sinais que removi na semana passada: " Trata-se de uma lesão benigna da pele, comum especialmente em pessoas de meia-idade ou idosas." O que vale é que a boa notícia supera a má, certo? 

Quando é que sabes que os teus filhos não são assim tão crescidos?

Quando, no dia do exame de Matemática A do 12°ano, o meu mais velho, ansioso com a prova, me diz que vai vestir a camisola da sorte... E sim, tambem eu pensei "mas ele tem uma camisola da sorte?"... (O exame não lhe correu propriamente bem. Conta ter entre 13,5 e 14,5/14,7, mas veremos.)

As mentiras que eles contam (e eu finjo acreditar)

" Mãe, aprendi a lição e não volto a beber álcool".
Estive em contacto, este fim de semana, com uma realidade diferente da minha. Lidei com miúdos de 17 e 18 anos, que deveriam estar no 12°ano, mas que estão no 9°ano,  incapazes de articular uma ideia ou uma frase sem nenhum palavrão e de uma forma gratuita, com discursos musculados ( "parto-os todos" ou "dou cabo dele"), perdendo a cabeça em segundos e recorrendo à violência, pois é a única forma que conhecem para resolver qualquer situação... São miúdos a quem a escola nada diz.  "Preciso da escola para quê? Não preciso da escola para nada, caralho. "  São miúdos, digo eu do alto da minha arrogância de quem vive numa bolha com mais sorte, sem grandes perspetivas de futuro. Ao lidar com eles, só me ocorriam três coisas. Primeiro, reconheci a  sorte que tenho por ter filhos como os meus, que longe de serem perfeitos, sabem estar. Tudo na vida é relativo...  De seguida, também reconheci a sorte que tenho em ser professora num contexto privilegiado, onde os ...

Ainda sobre "Pés de Barro"

Ando ainda fascinada com o livro "Pés de Barro" de Nuno Duarte. Já ouvi não sei quantos podcasts com o autor, já lhe enviei mensagem (e obtive resposta super simpática!) e já vi um documentário sobre a construção da ponte.   O autor, para além de escrever muito bem e de ter criado o excelente romance, é uma pessoa de bem, com os valores certos.  Estou mesmo fã. Já falei tanto dele, que tenho 5 colegas a ler o livro... Vale muito a pena. 

Livro 12 de 2025

 " Levarei o fogo comigo" de Leila Slimani Este é o terceiro livro sobre a saga familiar de Mathilde, a alsaciana que casa com um marroquino no 1° volume no "País dos Outros".  Neste, seguimos sobretudo a vida das netas, nascidas em Marrocos, mas educadas de acordo com os valores franceses, e da busca delas pela liberdade. Gostei muito da descrição de Marrocos, da cultura marroquina e das pessoas de lá.  (Lembrei-me dos meus vizinhos marroquinos, em França, do Kader e da Leila, e dos hábitos dele...) Querem saber quem são e de onde são. " Podemos ser ao mesmo tempo, daqui e de lá?"
Fui deixar o meu mais velho na escola para fazer o exame de Português do 12°ano.  Ele estava calmo e confiante. Apostou muito em Pessoa e disse-me no carro " A ter de analisar um poema, gostava que fosse Ricardo Reis ." Veremos. Estou aqui com um apertozinho no peito. 

Fim de ciclos

Acabam, hoje, as aulas do 12°ano do meu mais velho e as aulas do 9° do meu mais novo.  Ambos terão exames de Português e Matemática.  Os meus níveis de ansiedade vão duplicar, está visto. Não haverá chá de camomila suficiente para me acalmar... (E eu sobrevivi a mais um ano letivo.)
Ando a chorar por tudo e por nada...outra vez. É a saída do Pedro do CDG,  é a despedida dos alunos do 12°ano, inclusivamente do meu filho, ele é a despedida às minhas turmas, é ouvir a Inês do 9°D a fazer-me um discurso muito bonito, é ouvir o programa especial da Rádio Renascença sobre violência doméstica, é falar da minha tia, vitima de violência doméstica durante 18 anos, é ouvir uma música do Sérgio,  é contar à colega o episódio que me deu em que não sabia onde estava e que dia era (foi um grande susto..), é assistir a um recital de poesia sobre liberdade na minha escola, é ouvir uma aluna cantar Manuel Freire, é ouvir uma médica a falar de Gaza, é ler comentários racistas (e sei que "por cada grunho, um punho, em sentido contrário", como diz a Capicua, mas...) Ando sensível, mais nhonho que o habitual. Também ando muito cansada ou poderá ser um sinal da menopausa? 

Ainda sobre a marcha

Saí ontem com o pai cá de casa com a intenção de ir beber uma imperial ao arraial da Mouraria. Nada disso aconteceu. Não bebi cerveja, não jantei e só consegui comer uma torrada em casa à uma da manhã, bastante cansada. Querem saber? Acabei a noite a carregar arcos da Marcha em cima de uma carrinha da Junta, a descarregar os ditos arcos no Meo Arena, a assistir a Marcha no pavilhão, a carregar novamente os arcos na carrinha, mas já com a ajuda dos aguadeiros e finalmente a descarregar aquilo tudo na sede do clube. Que cansaço! Não perguntem como nem porquê... Houve um problema, o pai cá de casa teve de o resolver e eu achei que o devia ajudar. Estive por trás do palco, com não sei quantas marchas, num frenesim doido, cheio de cores e a carregar arcos!  Foi giro ver, mas meto-me em cada uma... Confirmo: as marchas são chatas, mas a minha marcha é linda. Estiveram muito bem, embora os marchantes estivessem super desmotivados depois da prestação deles. Como foi a primeira vez que vi a...
Hoje o meu mais novo teve o último jogo oficial com as cores do clube dele. Acabou o campeonato. No fim do jogo, vão sempre dar o grito final com a bancada. O  mister  resolveu dizer coisas bonitas e simpáticas, de certeza, mas eu não estava em condições de o ouvir por causa da comoção que tomou conta de mim. O Pedro chorava baba e ranho. Todo ele tremia. Como capitão, ele dá sempre o grito. Pensei que não o fosse fazer, por causa das lágrimas que lhe caíam copiosamente pela cara abaixo. Fê-lo, porque foi o seu último grito oficial. Capitão até ao fim.  Custou-me muito ver a tristeza do Pedro. O CDG é uma das suas paixões, mas é hora de partir... Veremos se consegue aguentar o ritmo da 1a divisão nacional. Quero acreditar que sim, mas não sei... (já me conhecem, sou mãe de baixas expetativas...) .  Custa-me também deixar aquele escalão. São pais com quem estou há 8 anos. Não são amigos, porque eu sou pouco de ter amigos, mas são pessoas que estimo, com quem já me div...

Rien de rien (um título que relembra a Piaf, mas que nada tem a ver com a Piaf)

 Abro esta página para escrever qualquer coisa e...nada. Um vazio.  Ocorre-me apenas que o nada não está somente aqui, no blog, e na minha cabeça. Está um pouco em todo o lado: na minha conta bancária quando o mês está a chegar ao fim, no olhar perdido de alguns alunos, nas respostas sistemáticas dos filhos quando lhes pergunto " Algo novo? Está a pensar em quê? Que cenas fixes fizeste hoje?" ou  "podes repetir o que disseste?" já num tom mais seco. Nesta última, o nada vem acompanhado de outro nada. Às vezes, anda a par, como se fosse um eco... Que estranho! E pronto, nada acrescento ao vosso dia com este post. Queria apenas partilhar convosco que entre o barulho louco do mundo, que engole quase tudo, e este nada que me assola, mon coeur balance.     A inconsistência continua a ser o meu nome do meio... Aqui e aqui . 

O mundo

Há ruído por todo o lado. Os discursos são muito musculdos. Berra-se demasiado. É uma barulheira insurcedora, um chinfrim dos diabos.  Fica-se por vezes sem discernimento.   Há que ler mais, olhar, ver e reparar nas coisas que importam, contrariar a tendência, rir com quem nos faz bem, recuperar o silêncio necessário para contemplar e relembrar o Manuel Alegre " mesmo na noite mais escura / em tempo de servidão / há sempre alguém que resiste / há sempre alguém que diz não " Sempre .

Sabem onde estou?

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 No ensaio da marcha. ... ... ... Ai Tella, nunca digas nunca!
46 ou 47? Já tenho de fazer contas para saber quantos anos faço. E como sou de Letras, fico na dúvida se não terei errado. Sem ninguém ver, conto pelos dedos, como quem faz a prova dos sete.  São 47, sim senhor. 

"Vai fazer uma coisa útil para a sociedade!"

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Na semana dos Santos Populares, o pai cá de casa estará no estrangeiro. Regressará no dia 13.  Fiquei logo aborrecida (mas não tanto como ele...) porque não terei date nesses dias. Os filhos já avisaram, claro, que não irão nenhum dia comigo... E não vou ficar em casa na noite do dia 12... Vai daí que pensei que podia ser útil. A Marcha do clube dos meus filhos descerá, como sempre, a avenida da Liberdade nessa noite e precisam de ajuda.  ( Nota : não acho piada nenhuma à marcha e até acho parolo, mas acho ainda menos piada a ficar em casa nesses dias. Há uns anos, precisavam de mulheres e convidaram-me. Declinei, dizendo que não achava piada à coisa e que nunca...blá blá blá). Precisam de um aguadeiro, mas desisti dessa ideia. O aguadeiro não tem apenas de dar águas, mas segurar nos arcos em determinados momentos e isso obriga a que vá aos ensaios (diários das 19h às 22h) e a fazer o pavilhão também. Ui, que seca! Nem pensar! Precisam de pessoas que saibam costurar para os a...

Livro 11 / 2025

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 "Pés de Barro"- Nuno Duarte Este livro, vencedor do prémio Leya, prendeu-me logo no início.  Mergulhei num Portugal bolorento dos anos 60, com a miséria,  o analafabetismo, a guerra, deus pátria e família,  durante a construção da Ponte sobre o Tejo. Desde a linguagem, à forma como os discursos surgem, às personagens, sobretudo à personagem feminina, que pisca o olho de forme leve à Blimunda, à história,  a uma especie de neo-realismo, tudo tudo me agradou. Mentira, não apreciei muito o desenlace, mas não faz mal porque este é um livro MUITO BOM.  (Já vi, por causa do livro, um documentário dos anos 90 sobre a construção da ponte, de tão fascinada que ando com este livro...) Vale a pena ler. Muito. "...mas o Victor olhou e não viu nada, a sua vida nao tinha nada que valesse a pena ver, era mais um, só mais um, as vidas que passam a correr à frente dos olhos são as extraordinárias, as dos operários nada têm de extraordinário, não passam à frente dos olhos n...

Dia da mãe...

Vieram acordar-me às 8h40 para me pedir boleia. Iam ter com os miúdos que treinam para um jogo qualquer. Como chove muito, acharam por bem pedirem boleia em vez de irem a pé.  Levantei-me e arranjei-me em minutos. Tinham de lá estar às 9h. Saímos. Já no carro, levo com uma reposta super mega torta de um deles.  Porra. Nem no dia da mãe. Chamadas de atenção,  suspiros, revirar de olhos e pedido de desculpa.  Nem sempre é fixe ter filhos. Nem sempre é fixe ser mãe.  E apesar disso tudo, continuamos a amá-los incondicionalmente.  Ser mãe é do caraças. 

Dia do trabalhador

Foi depois de ler  Germinal de Emile Zola que dei verdadeiramente importância a este dia. ..  E foi só depois de ter lido o livro que passei a ir à manifestação organizada pela CGTP porque me apercebi, parafraseando José Mário Branco, o  que nós andamos para aqui chegar... Decidi que devia celebrar na rua os direitos que hoje temos graças à luta de muitos trabalhadores. Não tem valor político para mim, é o reconhecimento de um combate que se travou (e que se trava).  O livro é uma coisa espantosa. E se ainda não leram  Germinal , aconselho vivamente a fazê-lo. 

[Mais uma pessoa a falar do] Apagão

Estava no intervalo das aulas quando a luz se foi abaixo. Disseram-nos para estar atentos ao relógio porque não haveria toque de entrada. Às 11h45, vá, 11h48,  fui dar aulas sem luz até as 13h15, sem saber de nada.  (Na minha escola, os telemóveis são proibidos há pelo menos 23 anos...Verdade.) Achei no entanto estranho sentir o meu relógio a vibrar tantas vezes seguidas com chamadas do pai cá de casa. Pensei que se calhar tinha acontecido algo ao meu pai.  A aula acaba, regresso à sala de professores onde posso, aí, mexer no telemóvel e ligo para o pai cá de casa que me avisa da situação, mas sem saber grande coisa. Russos, chineses ou o c@&%@lho, como dizia a outra.  Dizia-me ele no fim "despeço-me de ti. Foi bom estarmos juntos!". Rimos.  Logo de seguida, fico sem telemóvel até as 23h00.  Suponho, e bem, que os miúdos estão a caminho de casa de autocarro.  Dou aulas até às 15h15, com apenas 13 alunos. Os outros foram para casa. Um pai apareceu à...

Sempre

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Ano após ano, o 25 de Abril continua a ser o dia mais bonito, mais alegre e mais importante do ano. 

Livro 10/2025

 " Nem todas as árvores morrem de pé " - Luísa Sobral É um livro que nos conta a história de mãe e filha na RDA e dos caminhos que trilharam para alcançar a liberdade.  Gostei, mas não achei nada de extraordinário. Há um conjunto de clichés e de personagens pouco desenvolvidas, mas a narrativa é fluída e prende-nos.  3,5

Livro 9/2025

"A conspiração contra a América" - Philip Roth E se Roosevelt não tivesse ganho as eleições nos EUA em 1940? E se um presidente pró-Hitler estivesse na Casa Branca em vez dele? Qual seria a sorte da conunidade judaica nos EUA?  O livro conta-nos como o jovem judeu Philip Roth e a sua família veem a subida do antissemitismo e  reagem ao medo.  Há passagens do livro que nos remetem imediatamente para a situação atual. É incrível a semelhança entre muitas partes dessa distopia e a realidade... Há passagens que gostei muito e há outras mais aborrecidas, sobretudo aquelas que dizem respeito ao sistema político americano.  Recomendo a leitura. 4 estrelas. 
Às vezes, penso em vir cá para escrever um post. " Olha, tenho de escrever sobr e isto ", " eh pá,  tenho de digerir esta cena no blog" ou ainda "tenho de  registar no blog para reler dentro de 10 anos" . E nada sucede, porque a vida vai acontecendo, segue o seu caminho e outras coisas vão ocupando a minha mente. A ideia ou a coisa pensada, que nunca é assombrosa, ja sabem, foge-me e fica o vazio. Não me refiro ao vazio existencial ou àquela  linha do electrocardiógrafo. Também não é o vazio da escrita, porque, convenhamos, não sou nenhuma escritora. É apenas o momento em que nada sobra para relatar.  Não sei se é bom ou se é mau.  Por exemplo, quis escrever sobre o meu mais novo, um ataque de fúria e a minha incapacidade em gerir as emoções dele. Depois passou, porque fiquei a saber que o meu mais velho tem uma namorada e que sou a única a supostamente não saber. O mano sabe. O pai sabe. O tio sabe. A avó sabe. Os meus colegas sabem. Eu supostamente não s...

2 anos

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Acabei de ler o post da Carolina sobre os seus mortos, talvez por isso é que escrevo este.  A minha Aida morreu há dois anos. Às vezes parece que foi ontem, mas na maior parte das vezes, parece que foi há mais tempo.  O tempo psicológico tem muito que se lhe diga. Pena eu nao saber o que dizer sobre ele.  A minha avó, com quem sonhei apenas duas vezes, que me lembre, faz-me falta, mas falo dela, pelo menos, todas as semanas. 

Livro 8/2025

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"Inventário de Sonhos" - Chimamanda Ngozi Adichie É a história de 4 mulheres africanas com sonhos, expetativas, medos e arrependimentos e sobre as escolhas que fazem(os) e as que lhes (nos ?) são impostas.  Gostei bastante. 4 estrelas.

Lista brutalmente honesta sobre a maternidade

Uma colega foi mãe há pouco tempo. Perguntava-me quais os maiores desafios da maternidade. Fui muito genérica, sem mentir: é difícil, vais sempre sentir culpa e  as preocupações não têm fim. Na verdade, não gostei muito do que respondi e decidi elaborar uma lista brutalmente honesta num só take : Esquece: não vão pensar como nós e nem sempre vamos gostar das mesmas coisas; Vamos repetir todas as frases que os nossos pais nos diziam e que nos enervavam (No meu caso : "Quando manda aqui sou eu!" ou "na minha casa, mando eu");  O amor incondicional  inclui também muitas vezes uma vontade gigantesca de fugir deles e estar sozinha; As mães perfeitas não existem e se dizem que são zen ou cool , que os filhos fazem isto e aquilo, estão a mentir (nem que seja a elas mesmo); Quando eles começam a crescer e fazer as coisas sozinhos, podes eventualmente, num dia ou outro, teres saudades deles em pequeno, mas nada que te deixe a lacrimejar; Há um momento em que deixam de ser...

Fui novamente atropolada pelo tempo...

Fui inscrever o meu mais novo, o meu eterno pequeno, no secundário. Sem grandes certezas, escolheu a área de Economia.

Desfoque

Aos 46 anos, os meus olhos decidiram rebelar-se. Não avisaram, não negociaram nada. Começaram simplesmente a desfocar todas as letras pequenas como se fossem segredos que eu jamais poderia decifrar.  Antes, dizia com um certo orgulho "Não oiço nada, mas vejo super bem!" E era assim mesmo. A minha vista alcançava aquilo que outros nem sonhavam. Agora, pfff...Se o texto não for com letras XL, é ver-me a afastar...aproximar...afastar...e franzir o sobreolho e aí, jesus, é ver aquela ruga na testa a ficar cada vez mais vincada.   Para tentar manter um pouco a compostura e dar um ar de pessoa jovem e moderna, em vez de PDI, escreverei então: É aging, certo?  (Suspiros) Há solução, claro que há, é só comprar uns óculos, mas a questão não é esta, como sabem. A questão é aquela coisa do tempo que passa...  Enfim, haja fontes tamanho 14 para todos!        
O meu mais novo dará em breve um passo na direção do seu sonho. Está felicíssimo, claro. Mas também muito triste ao pensar no que vai deixar para trás.  Estivemos numa reunião com uma equipa técnica da 1a divisão nacional de futsal que o quer contratar para a próxima época.  E a pergunta dele, horas depois, foi " como é que eu aviso a minha equipa atual [ com quem joga há anos e alguns miúdos desde sempre] que vou sair ?". Nisso, desata a chorar descontroladamente, a sofrer por antecipação. Adoro o clube onde está atualmente, mas quer voar mais alto e tentar alcançar o sonho de ser jogador profissional... Muitas vezes, sou a mãe que tenta conter a tristeza ou a angústia deles, ouvindo-os,  dando-lhe conselhos da melhor forma que sei ou acalentando-os, numa tentativa de mostrar que eles podem desabar, mas eu sou forte por eles. (Já escrevi sobre isso aqui, eu sei, ando a repetir-me ).  Desta vez, não consegui reter as minhas lágrimas. Chorámos os dois de mãos dadas. ...

Vizinhos

Há uns blogs que voltaram ao ativo e que escrevem todas as semanas sobre um tema. Podem ver aqui. Vale muito a pena. Esta semana, escreveram sobre "vizinhos". Ao ler uma delas, lembrei-me dos meus e quis também falar da minha rua, em Franca, numa aldeia perdida nos Vosges . Vivi no 18, rue Clemenceau e no 20 viviam os nossos vizinhos mais próximos: eram os turcos, a familia Babacan.  A filha mais velha, a Oznur, era da minha idade. Depois havia a Perihan, dois anos mais nova, o Ekrem, da idade do meu mano e mais dois pequenos, o Sulyman e a Sulyan.  Os pais eram o Mustapha e a Ezma. A Ezma era emancipada a maneira dela. Fumava (em casa apenas)  porque, de acordo com o que dizia a todos os conhecidos, "o médico tinha receitado" Malboro. Eu achava estranho. A minha mãe dizia que ela é que sabia e punha logo um ponto final no assunto. Soridade, claro.  Eram muçulmanos, iam à mesquita e faziam o Ramadão. Quando o Ramadão acabava, faziam uma festa e convidavam-nos ...

Quando é que sabes que não vais para nova?

Tornei-me na pessoa a quem disseram: - Toma os meus óculos para conseguires ler as letras pequenas do menu. E consegui ler.   

Série "Adolescência"

Não vou repetir aquilo que toda a gente já disse sobre a série e sobre a alienação em que vivem os jovens por causa das redes sociais. Apenas reitero aquilo que se diz por toda a parte: é uma série sufocante a não perder.  Sempre controlei os telemóveis dos meus filhos através da aplicação de controlo parental. Tiveram  horas limitadas para ver tiktoks, aplicações bloqueadas e o telemóvel desligava-se a partir de determinada hora. Diziam-me que seria melhor educá-los para uma utilização saudável da Internet. Achava que sim, em teoria e nos outros.  Comigo, isto é,  connosco, sabia que não ia resultar. Gosto de matar o mal pela raiz. Sempre tive medo de  serem comandados por algoritmos horríveis. E mesmo assim, sei que foram, obviamente, reféns das redes sociais. Com o passar dos tempos, fui dando mais liberdade digital aos miúdos. Como ainda controlo alguma coisa, sei que eles passam demasiado tempo nos ecrãs,  que recebem imputs de gente pouco recomendada,...

Fui atropelada pelo tempo

Estou a tratar da inscrição do Tiago para os exames nacionais do 12ºano e tive de pedir uma senha para o sistema de candidatura online à faculdade.  Porra, n'est-ce pas? 

Livro 7 - 2025

 " A fada Oriana" - Sophia Li novamente este livro por razões profissionais. A Sophia escreve histórias bonitas e nunca infantiliza as crianças com a sua escrita.  5 estrelas. 

Ir será sempre a melhor coisa a fazer

Plazzas, cores, igrejas, basílica de São Pedro, pizzas, gelato, sorrisos, sigmas, autocolantes do CDG, aperol sprit, piazza da flori, Bernini, Panteão,  "são loucos estes romanos" e mais uns quantos clichés de uma família feliz em Roma nos últimos 4 dias.  O Pedro disse que ainda assim, preferiu Madrid porque Roma torna-se repetitiva.  O Tiago concordou com o irmão. 

Livro 6 - 2025

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 "A velha senhora Webster" - Caroline Blackwood Li o livro porque gostei da capa, que é um critério tão válido como outro qualquer para se ler um livro. Não sabia rigorosamente nada sobre a autora ou o livro.  A personagem central é a velha senhora Webster. É uma mulher rígida,  má e intransigente, bisavó da autora, que conta um período curto da sua vida em que ficou a viver com ela. A partir daí,  ficamos a conhecer as outras mulheres da família, todas elas com o seu quê de diferente... Vale muito a pena. Adoro quando os livros me surpreendem... 5 estrelas. 

Livro 5 - 2025

 "L'amant" - Marguerite Duras O livro conta a história, entre a ficção e a autobiografia, de uma adolescente (15 anos) branca, pobre e com uma família desequilibrada, que descobre o prazer e o sexo com um homem rico de 27 anos, chinês, na antiga colonia francesa da Indochina.  Há uma mãe e uns irmãos que não têm nomes, mas que ocupam muito da história. Há uma narradora que é participante, mas também não participante. A narração oscila entre o "eu" e "ela". A narrradora vai também falando de si na 3a pessoa. É um livro com frases que se repetem como uma melodia, com avanço e recuos no tempo, com ideias e factos já descritos nas páginas anteriores, com imagens fortes e cores vivas, com uma linguagem crua e direta. É um livro onde a melancolia é palpável. É também uma história de amor com um fim muito bonito.  Gostei muito, talvez por não conhecer a história, que deveria chocar, mas não choca e por ficar encantada com o ritmo das palavras e a atmosfera me...
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Calcei os meus ténis novos. Como toda a gente sabe, os sapatos têm poderes incríveis. Dão-nos confiança e auto-estima. - Pedro,  sinto-me tão fixe e jovem com estes ténis! - disse ao meu mais novo.  - Sim, nomeadamente do calcanhar para baixo!  Ri-me!

Livro 4 - 2025

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"Não fossem as sílabas de sábado" - Mariana Salomão Carrara Li por causa da recomendação da Pipoca e dos comentários da Luísa Sobral e Ana Markl. Gostei, mas cansou-me um pouco. É a história de duas mulheres que ficam viúvas por causa de um acidente absurdo que envolveu os seus maridos e da amizade que nasce entre elas. É um livro sobre o luto. 3 estrelas. 

Os tempos estão a mudar

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Dois quilos a mais e três meses depois, voltei ao ginásio e ao Sr. Dr. nutricionista .
Este post surge depois do meu mais novo me perguntar se eu pensava em coisas menores, mas que tinham afinal muita importância. Não percebi bem onde queria chegar.  - Mãe,  importantes! Coisas pequenas, mas se pensares bem, até são gigantes.. - Não sei... Tornei-me numa pessoa que repara na chegada da primavera. Não é com entusiasmo que o faço nem é sem ele, na verdade.  Apenas contasto. Olho para as árvores ou plantas e penso "ja tem botão " ou "já tem flor" sem ter a certeza que utiliza os vocábulos corretos, pois nunca percebi nada de botânica e nem gosto particularmente de flores.  O tempo passa. A natureza segue. Penso muitas vezes nisso e relaciono-o sistematicamente com uma das frases da minha Aida. "A vida é uma roda".  Estava a referir-se a isto?
Os meus filhos tornaram-se treinadores de futsal do clube onde jogam. Treinam o escalão Benjamim, miúdos e miúdas com 8-9 anos.  A equipa técnica saiu ao meio da época e o meu mais velho lembrou-se que tinha sido treinado, nessa mesma idade, por atletas Juniores do clube onde estava na altura. Quis então fazer a mesma coisa. O irmão, guarda-redes, quis juntar-se ao projeto e ser o treinador dos GR. Dois outros colegas de 17 anos foram convencidos e lá aceitaram. É preciso uma comunidade para criar uma criança e um escalão desportivo.  Tiveram de convencer a Coordenação e Direção do clube. O Tiago alegou que está habituado às crianças, pois trabalha com gosto, no verão, na primária do Colégio, levando os pequenos à praia e fazendo atividades com eles. [Acrescento aqui: e com muito jeito. Ando a dizer ao rapaz que seria um excelente professor da primária, mas nessas idades, quem quer ser professor?  ] Continuando. Referiu que joga futsal desde os 7 anos, que gosta de tática...
Internado há uma semana, o meu pai está frágil. A coisa não é para menos: insuficiência cardíaca,  enfisema pulmonar e retenção de liquidos.  Numa das visitas, senti emoções contraditórias. Enquanto um enfermeiro o preparava para o tirar dos Cuidados Intensivos e transferi-lo para os Cuidados Intermédios, perguntava-lhe um rol de coisas com uma linguagem demasiada rebuscada para um homem como o meu pai e, ainda por cima, completamente surdo.  Foi constrangedor ver o meu pai sem perceber nada do que estava a ser dito. As suas respostas não faziam sentido, o olhar meio perdido à procura dos meus. Ele não estava a compreender. (A falta de empatia do enfermeito, fruto do cansaco e saturação,  de certeza, afligiu-me: ó senhor, olhai para quem está a vossa frente e falai de uma forma mais simples e sem julgamentos ou escárnio, pois não o conseguis esconder.) O constrangimento deu lugar, durante uns segundos, à vergonha. Simultaneamente senti uma ternura imensa por vê-lo tã...

Livro 3/2025

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 "Caruncho", de Layla Martinez. O Expresso considerou-o o 4° melhor livro editado em 2024. Li-o por causa disso e porque o Riço Direitinho, no Público e nas suas redes, também o recomendou. Gostei bastante. Fala de ódio: ódio entre as classe, contra as mulheres, entre as pessoas, um ódio que passa de geração em geração,  que contamina e que leva à vingança. A narrativa é contada a duas vozes: uma neta e uma avó.  Li-o num livro físico. Senti saudades do Kobo porque não consegui aumentar o tamanho da letra e não consegui ler de madrugada, quando o pai cá de casa ainda dorme ao meu lado, sem acender a luz e acordá-lo.  5 estrelas.