Post sem título

Parece-me que 2021 é o ano em que fecho portas ou em que se fecham ciclos.

No 31 de Dezembro, tenho por hábito, como já o mencionei aqui, de fazer balanços: o teu melhor e o teu pior do ano. Desta vez, em 2020, o meu melhor foi Aroeira -  a casa dos sogros - onde passei 5 meses seguidos e todos os fins de semana até ao final do ano (e onde fiquei no 2º confinamento). Aquela casa foi um boost: o espaço exterior e interior, a proximidade ao mar, a natureza e as corridas deram-me energia, aconchego e segurança em época pandémica. 

Conheci a casa há 20 anos. Fiz de tudo em todo o lado nela. Podem abarcar tudo o que vos vem à cabeça nesta frase: não confirmo nem desminto os vossos pensamentos porque sim, fiz isto, aquilo e mais ainda! Vi várias transformações da casa e a casa viu as minhas várias transformações. Em pequeno, o Tiago dizia ao avô "quando morreres, a casa fica para mim!". Ríamos. Nada disso acontecerá e quase que dá vontade de chorar agora. Foi vendida. Sinto uma grande nostalgia já, uma tristeza por despedir-me dela. Para além das coisas fúteis - sol, piscina e campo - sinto já saudades do que tive e até saudades do que nunca lá acontecerá com os meus filhos.

Agora, quando entramos na casa cada vez mais vazia, fico com um nó na garganta. Nunca dou parte fraca nem comento, até porque foi uma decisão que não me cabe comentar. Elogio a vontade de mudar de vida aos 70 anos, da aventura de recomeçar uma coisa nova, da decisão que entendo e que faz todo o sentido, racionalmente falando. Dou e darei sempre forças pelo opção tomada mas só eu sei como estou por um fio. Se estou assim, tão sensível, nem quero pensar como estão os meus sogros, cujas vidas foram construídas em redor daquela casa. Dir-me-ão que uma casa é uma casa e siga. Sei que racionalmente é assim, mas até ao escrever estas linhas, sinto que a qualquer momento, desato a chorar. Toda eu sou emoções, já me conhecem. A razão não é a minha cena. 

Sei que quando fechamos uma porta, abrimos uma outra. Sei, mas sou uma pessoa que gosta de chorar sobre o leite derramado. Deixem-me ficar aqui a carpir a minha mágoa, que há de passar, como tudo na vida. 


Comentários

Carolina disse…
Até eu tenho memórias com 20 anos daquela casa. O ano do RFE aconteceu mesmo há 20 anos ou 21 ou 22... autch!
Os momentos/as memórias ficarão para sempre nos vossos ❣️❣️❣️❣️.
Foi isto que a minha prima disse quando assinou a escritura que me vendia a parte dela da casa da nossa avó. Senti aquilo como uma chapada de luva branca por estar agarrada ao espaço físico... mas nós, taurinas, sentimos o espaço/a terra de forma diferente dos restantes mortais...
Mary QA disse…
Não querendo desanimar, porque não sou taurina e se calhar sinto as coisas de maneira diferente, mas nem sempre que se fecha uma porta se abre outra - no entanto, é mesmo assim, e está tudo bem.
Tivemos também um processo longo, difícil e demorado da venda da casa (icónica!) dos meus avós, onde o meu pai e tios nasceram e viveram a vida toda, e eu também, até ser crescida. Até agora nada preenche o vazio deixado por ela - sendo que a temos de ver quase todos os dias, completamente descaracterizada e transformada num condomínio de luxo. Fechamos aquela porta, não abrimos nenhuma outra, é mesmo assim, aprenderemos a viver sem ela...
As memórias são mesmo o que fica... beijo grande!
Anónimo disse…

Comigo será o mesmo!

A vida seguirá, mesmo que seja diferente.