Há muitos anos, muitos mesmo, não bebia vinho. Depois, aos poucos, fui bebericando apenas vinho branco ou verde.

Passaram-se mais uns anos e fui bebendo também vinho tinto, mas só alentejanos. Tomei-lhe o gosto e deixei os brancos e verdes. 

Quando comecei a saboreá-lo verdadeiramente, a apreciar mais um em detrimento de outro, aventurei-me pelos vinhos do Douro. Descobri um novo mundo e também descobri que tinha sido uma tonta ao limitar os vinhos de acordo com as zonas geográficas. 

Comecei a ler os rótulos das garrafas compradas para saber o nome das castas. Antes de comprar um vinho, vejo quais as castas que o compõe. Deixei de beber vinhos melhores em copos banais. Agora, qualquer vinho é bebido num copo especial. Voltei a beber vinho branco e verde. Se não houver vinho bom, mas mesmo bom, bebo água, na boa. 

Enfim, o vinho passou a fazer parte da minha Santíssima Trindade, juntamente com queijo e pão. 

Perguntar-me-ão por que razão um post sobre vinhos a esta hora, certo?

Eu explico. Ontem, um amigo muito conhecedor de vinhos (faz provas; tem uma garrafeira de grande valor, com "Pera Manca" pelo meio; distingue a zona do vinho pelo cheiro e/ou paladar, etc) levou 8 garrafas de vinho para o nosso spot de sempre, com o grupo de sempre. Queria proporcionar-nos uma noite de provas e no fim, tivemos de fazer o nosso top 3 e dizer porquê. Foi uma noite giríssima, durante a qual aprendi muita coisa. A noite acabou com pastéis de Belém, como já é tradição nossa há quase 20 anos, comidos no passeio, numa Belém vazia de turistas naquela hora tardia, com risos incontroláveis e pernas cambaleantes. Olhava para nós e tudo aquilo era normal. Afinal, sempre fomos um grupo muito efusivo mas o que nos distancia do que fomos há quase duas décadas é o paladar mais requintado que só os 40 anos nos podia trazer e ser o vinho um dos motivos que nos faz estar juntos apesar dos filhos e da rotina implacável. Unimo-nos em torno do vinho, qual néctar sagrado, para provarmos aquela(s) garrafas(s) no nosso spot, numa wine house ainda pouco afamada ou numa garrafeira de Lisboa. 

Andamos também nós a crescer bem, pá.