Foi dia de ecografia mamária e mamografia. Detesto, todas nós detestamos, mas tem de ser. 
Enquanto estou deitada à espera da médica,  não receio nada. Aguardo que ela chegue. Vou pensando em várias coisas. Quando faço esse géneros de exames, a minha cabeça divaga. 
Começa. Por causa do gel e da sonda, os meus mamilos endurecem tanto que chegam a doer. "Será assim com todas as mulheres?". Olho para o pequeno ecran e vejo tudo cinzento e branco. "Serão as glândulas mamárias?". Penso na fase em que amamentei os meus filhos. Para mim, a amamentação será sempre recordada com ternura e saudade. Um elo. Nada me preocupa. Estou a fazer exames de rotina. Tento perceber o olhar da médica. Foco-me apenas nos olhos, até porque a máscara esconde o resto. Não a conheço,  logo não tenho como a interpretar. Tento perceber a sua idade, mas rapidamente me farto. Olho novamente para o ecran. Tira medidas às coisas que vê e pergunta-me se tenho familiares com cancro da mama. Nego. Uma certa inquietação aflora-me o espírito. Levanta-se para reler os meus relatórios anteriores. Volta e decide ver-me novamente a mama esquerda. Demora-se. Eterniza-se - é esse o verbe que me vem à cabeça. Debruço-me mais uma vez no seu olhar e parece-me mais atenta. Ainda bem, penso, calhou-me mais uma vez uma médica aplicada e atenta. Uso adjetivos que aplico para caracterizar (ou resumir) os meus alunos e penso que há sempre uma stôra em mim, mesmo quando estou de mamas ao léu.  Não fosse o olhar da médica indecifrável, mas duro, e esboçava um sorriso. 
Sou infantil, já me conhecem. 
A médica fala para dentro e oiço menos 20%. Não percebo o que me diz. Levanta-se e diz-me "siga-me". Perante o meu ar atónito, repete qualquer coisa. "Está com um nódulo novo e grande. Tem de fazer agora uma nova mamografia não sei quê ". De repente, aquele exame de rotina deixa-me nervosa. Já todos lidámos, infelizmente, com cenários tristes para não ficarmos a pensar neles insistentemente. Enquanto me espalmam novamente a mama esquerda, só me lembro do livro "Madalena". A técnica diz-me que, às vezes, fazem a mamografia não sei quê e não acrescenta mais nada. Saio. Entregam-me as imagens e informam-me que receberei os resultados no portal dentro de 5 dias e, como sempre, terei de os mostrar à médica. 
Fiquei preocupada. Só quando saio da clínica é que sinto que os níveis de preocupação sobem. 
Regresso junto dos meus homens, que ficaram ainda no spot 3 das férias. Enquanto conduzo , revejo as coisas sobre outro ângulo. Acalmo. Tudo prevenção e rotina. 
Depois do quisto no fígado no ano passado que atormentou as minhas férias e que se revelou uma coisa normal, eis que a rentrée deste ano está marcada pela mama. Mas agora, não vou stressar. Não há de ser nada. 
Envelhecer é tramado. 

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