Árvore geneálogica - o regresso

- O que andas a fazer, Tella ? - perguntam vocês. 

Voltei a uma das coisas que mais gosto de fazer: ir à procura de pessoas perdidas na linha do tempo. Regressei à minha árvore genealógica. Na última entrada deste blog sobre o tema,  em 2021, escrevi " [...] São nomes sem histórias e a vida sem história vale de pouco, ou mesmo de nada. No fundo, as suas histórias passaram ao lado da  História. São anónimos a quem nem a vidinha sabemos para ser contada". Sim, estava um pouco em baixo e pessimista. Não conseguia avançar à distância nas minhas investigações. Estava bloqueada com vários nomes e a tentar controlar o vício. Nas véspera, tinha ficado até as 4h00 da manhã a ler assentos de casamento e batismo. Acordei daí a nada para dar aulas às 8h00. É um vício, uma espécie de obsessão. 

O vício voltou ao descobrir um grupo no FB de genealogia francês. O algoritmo está sempre a mostrar-me coisas do antigamente... Que fascínio! Os franceses estão muito à frente na digitalização dos documentos e têm uma rede tão grande de pessoas com a mesma paixão que conseguem ter ali, naquele grupo, imensas informações sobre as suas famílias.

Há também um grupo de genealogia português, mas que tem sobretudo como objetivo encontrar familiares portugueses de brasileiros, uma forma mais rápida para obter a cidadania portuguesa. Andei por lá, sem grande interesse, mas sempre a pensar que mmm, volto, não volto... Comecei a abrir a minha contas nos vários suportes programas onde tenho várias informações e recomecei na loucura. Que vício! No sábado, eram 6h30 da manhã e já estava nisso...

Partilhei umas dúvidas nesse dito grupo de genealogia. Um senhor brasileiro ajudou-me a encontrar uma certidão de nascimento do Francisco Henriques, nascido em 1882. Os nomes dos pais conferem com aquilo que tinha. Fiquei super feliz. Esse tal Francisco, pai da minha avó, foi para o Brasil e nunca mais regressou. Já falei dele várias vezes.  Nestas minhas últimas investigações, encontrei-o num navio a vapor, em Santos, em 1922. Nesse documento, diz-se que ele não tenciona regressar a Portugal, ao contrário dos dois outros "compadres" dele, Joaquim Rodrigues e Manuel Thomaz, que tencionam ficar apenas 6 anos. Já agora, esse Joaquim Rodrigues é também o meu tetravô, avó do meu avô. Pois. Mas, depois de refletir sobre a minha descoberta, percebo que há coisas que não batem certo. POr exemplo, encontrei os pedidos de passaporte do Joaquim e do Thomaz, mas não o do Francisco. Já revirei todos os documentos digitalizados. Li os registo de passaporte de 1910 a 1922. Passaram-me milhares de nomes pelos olhos.( Uns com fotos de gente miserável). A minha pergunta é: terá ido às escondidas? Havia, na altura, clandestinos? 

Outra coisa que me inquieta é a data de chegada dele ao Brasil. Ele chega em 1922, mas a minha avó nasce em 1925 e depois dela, houve mais um irmão. Questionei o meu pai sobre a filiação da minha avó. Ui, ofendeu-se. Por outro lado, a minha avó contava que se lembra de estar ao colo do pai, em miúda, com 4 ou 5 anos, quando este regressava bêbado da sua taberna. Era o seu melhor cliente, dizem... Terá regressado em 1924 para emprenhar a mulher e partir novamente? Este homem escorrega-me. Enviei um email ao Museu do Imigrante, no Rio, a fazer perguntas sobre o Francisco Henriques no final dos anos 20. Recebi resposta de uma investigadora, em menos de 24 horas, a dar-me a conhecer um Francisco Henriques, português, que entra no Brasil em 1929, com 43 anos. É o único Francisco Henriques a dar entrada em 28-29. Será ele? Entretanto, aquele tal senhor brasileiro encontrou uma certidão de óbito no Family Search com o nome do meu bisavô, morto, sozinho na Santa Casa de S.P., em 1959. Não há dados quanto aos nomes dos pais. É um português que morre só, sem ninguém. 

Arrependo-me tanto de não ter feito perguntas à minha avó sobre isso. Ele contou-me muita coisa, mas nunca ao pormenor. Se calhar contou, mas eu tinha uma idade em que não me interessava pelo assunto.  A minha melhor fonte é a do meu pai, que consegue montar a sua família até aos bisa deles, sem documentos, sem nada. Andei feita parva a ler mil coisas, para saber que o Joaquim era o meu familiar, quando ele me diz "e já sabes como se chamavam os meus bisas? Joaquim e Preciosa! " E está certo. Os documentos comprovam-no. Vou fazer-lhe uma entrevista. Vai falar-me dessa gente toda. Vai falar de todas as histórias que sabe. Ontem, depois de me contar mil histórias ao telefone durante 45 minutos, desligou o telefone com "Ah e sabes da Maria, uma das irmãs do meu avó? Era uma criada do Salazar em Sta Comba e a puta dele também, dizem!". Riu-se e disse-me "até sábado, Tella, que já tenho a cabeça a estoirar de tanta história contada!" 

Eu também...

 


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