Livro 33

"Plataforma" - Michel Houellebecq

Depois de percorrer durante 20 minutos as várias prateleiras da biblioteca e sem saber o que trazer, os meus olhos cruzaram-se com o Houellebecq. Há anos que quero ler o homem. Tinha chegado a hora. 

É a história de Michel, um homem "medíocre ", sem ambições e que diz em determinada momento "habitualmente não sou uma pessoa boa, não é esse o traço fundamental do meu carácter. A humanidade desgosta-me e, em geral, a sorte dos outros é-me indiferente, não me lembro de alguma vez ter tido um sentimento de solidariedade".

Depois da morte do pai, que não o transtorna por aí além,  vai passar férias à Tailândia. Rapidamente se farta da parte cultural do país e vira-se para a prostituição. As cenas de sexo são rápidas mas fortes e... objetivas, vá. (Mas para quem leu "O Escuro que me Ilumina", este é um menino em termos de cenas ousadas...). Lá, conhece a Valérie, empregada de uma empresa de turismo. Em Paris, reencontram-se e chegam a viver juntos. O Michel vislumbra felicidade durante uns tempos e parece que tudo vai correr bem. Elaboram juntos um programa de férias com sexo e prazer para ser vendido aos europeus. Tudo corre às mil maravilhas...Ou pelo menos parece...

Não gostei das personagens, do papel que a mulher-objeto tem, mas é impossível não deixar de ler. A escrita é sarcástica e apresenta-nos uma visão horrível e decadente da Europa, do turismo, do consumo e do neo-liberalismo. Não há lugares para metáforas ou clichés.  E uma escrita dura, pumba, toma lá isso na cara. É quase demasiado sincero, por vezes.  Tive de parar nalguns momentos e percebi que estava com aquele sorriso amarelo, tipo, "bolas, essa tem piada mas doeu ". 
Há pelo meio alguns comentário racistas e preconceituosos e ainda assim, não consegui deixar de ler. 
Pinta uma sociedade sem esperança. O fim é assim uma coisa que puxa para baixo.
Gostei muito. 
4 estrelas que são 4,5.

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