Livro 31 - 2020

Quando li "Terra Americana", pensei que estava a ler o melhor livro de 2020. Estava redondamente enganada. "Apneia" de Tânia Ganho é melhor. Tocou-me mais. 
É um romance formidável que mostra as dores, as guerras e os traumas pelos quais as famílias divorciadas têm de passar. Mostram que os traumas psicológicos nas crianças não se podem quantificar ou provar. Transtornou-me ver o estado emocional da criança. Também senti as angústias da (super)mãe que tudo faz para ter a guarda do filho. Ela luta sempre de forma ingénua em tribunais lentos, injustos, com gente incompetente que finge não ver ou que se refugia por trás de verborreia jurídica. Sentimos que as agressões verbais e psicológicas nunca são tidas em conta porque quem decide (procuradores, psicólogos, juízes, polícia, etc) é insensível, pouco sensato. A lentidão dos processos afligiu-me, assim como "não é o agressor que agride e tem de ser punido, é a vítima que mente ou está enferma".
Estive sempre em apneia também,  completamente imersa na leitura. Sublinhei palavras ou orações, marquei páginas e parágrafos, reli frases para me inteirar de tudo e pensar sobre a dor de quem quer proteger quem ama e não consegue. Cheguei a sentir desespero. 

Ao ler o livro, reconheci vários alunos meus que vivem assim, sempre a caminho do tribunal de menores, zangados porque estão numa batalha entre os pais. Também me apercebi que já falei com várias mães que passam pela mesma luta que a Adriana. Agora percebo um pouco melhor os pedidos de ajuda. Um dia, disse a uma "tem toda a minha solidariedade feminina mas ...". Não era isso que ela queria. Agora compreendo. 

Este livro é magistral e aconselho a TODOS a sua leitura. Tocou-me bastante, tanto que enviei uma mensagem à autora a dar-lhe os parabéns. Nunca tinha feito tal coisa. 

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