Fará uma semana amanhã que nos juntámos todos em torno de ti. Almoçámos todos juntos, como todos os anos, sendo esse o meu primeiro Natal do ano. Disse-te, como te digo sempre, que chegarás aos 100 anos. Já é um clássico nosso. Tu ris sempre, dizes que só Deus sabe e acrescento "chegas, chegas Aida". Esta semana, tiveste um AVC e tudo cá dentro se alterou. Nunca pensei que tu, avó, pudesses ter um AVC. Ainda no domingo me asseguraste que estavas bem e que não te doía nada. Nada. Fizemos um pacto, como sempre, que estavas proibida de ficar velha para que nada te acontecesse. E agora estás numa cama num hospital, com fralda e amarrada porque queres arrancar os fios todos. Tudo me aflige agora avó. Estás lá, sozinha e com medo, sem saber o que te está a acontecer e isso aflige-me. "És leve no crer" como sempre dizias e como a tua mãe sempre disse, segundo me contaste mil vezes. Sei-te assustada por causa disso também, por saber que não compreendes muita coisa. ...