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Internado há uma semana, o meu pai está frágil. A coisa não é para menos: insuficiência cardíaca,  enfisema pulmonar e retenção de liquidos.  Numa das visitas, senti emoções contraditórias. Enquanto um enfermeiro o preparava para o tirar dos Cuidados Intensivos e transferi-lo para os Cuidados Intermédios, perguntava-lhe um rol de coisas com uma linguagem demasiada rebuscada para um homem como o meu pai e, ainda por cima, completamente surdo.  Foi constrangedor ver o meu pai sem perceber nada do que estava a ser dito. As suas respostas não faziam sentido, o olhar meio perdido à procura dos meus. Ele não estava a compreender. (A falta de empatia do enfermeito, fruto do cansaco e saturação,  de certeza, afligiu-me: ó senhor, olhai para quem está a vossa frente e falai de uma forma mais simples e sem julgamentos ou escárnio, pois não o conseguis esconder.) O constrangimento deu lugar, durante uns segundos, à vergonha. Simultaneamente senti uma ternura imensa por vê-lo tã...

Livro 3/2025

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 "Caruncho", de Layla Martinez. O Expresso considerou-o o 4° melhor livro editado em 2024. Li-o por causa disso e porque o Riço Direitinho, no Público e nas suas redes, também o recomendou. Gostei bastante. Fala de ódio: ódio entre as classe, contra as mulheres, entre as pessoas, um ódio que passa de geração em geração,  que contamina e que leva à vingança. A narrativa é contada a duas vozes: uma neta e uma avó.  Li-o num livro físico. Senti saudades do Kobo porque não consegui aumentar o tamanho da letra e não consegui ler de madrugada, quando o pai cá de casa ainda dorme ao meu lado, sem acender a luz e acordá-lo.  5 estrelas. 

Fevereiro

 A minha avó dizia muitos provérbios. Utilizava muito os saberes de outrora para explicar algo. Dizia também muitas vezes frases feitas que continham a sua verdade. Há quem tenha como verdade aquilo que o método científico comprova,  outros têm-na através da IA, coitados, e a minha avó a da tradição oral.  ( Para justificar ações, boas ou más,  de qualquer pessoa, para me explicar por que razão tenho filhos diferentes ou para rematar a conversa sobre determinado indivíduo,  dizia "Temos cinco dedos na mão e nenhum é igual". Sempre adorei a expressão e o ar dela a dizê-la.) Há um provérbio, que só ouvi da boca dela, que me diz muito. Tem a ver com Janeiro, que nunca mais acaba (e que me deixa depressiva), mas sobretudo com a chegada de Fevereiro, pois a partir de agora, temos mais luz, menos cinzento e tudo fluirá normalmente. É uma esperança.  Aidita, "Fevereiro é dia, logo é Santa Luzia"! Que bom!  E eu já posso sair da minha caverna.

Bom dia, D. Clotide!

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Sobre a publicação anterior, também não sei como ou porquê!  Lembram-se disso ? C'est la même chose! 

E janeiro que nunca mais chega ao fim, hein?

Bolas, mais uma segunda-feira de janeiro!  Coragem, gente forte! 

Livro 3/ 2025

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 "Encontrar-me" de Viola Davis Este blog falou de vários livros onde os negros, nos EUA, são invisíveis. Relembrou a autobiografia da Viola Davis, cujo livro já tinha há algum tempo por causa do postcast "Vale a Pena". Achei que era o momento de o ler antes que me esquecesse dele outra vez. A atriz fala da sua infância marcada pela pobreza, violência e abusos. Fala-nos também da sua cor de pele. O livro retrata bem a invisibilidade a que foi sujeita ao longo de décadas.  Gostei do livro. Fiquei de boca aberta ao ler as coisas pelas quais passou. De uma pobreza extrema aos palcos de Hollywood, que superação, que corajosa, que sobrevivente!  3 estrelas.

15 anos do Pedro

 O meu mais novo já faz 15 anos. O meu pequeno comuna, que ouve Zeca e Sérgio,  que idolatra Che, que sonha em mudar o mundo e torná-lo mais justo. O meu pequeno guarda-redes, que voa muitas vezes para defender bolas incríveis  e que sonha com altos voos, mas que sofre por antecipação de saudade do clube onde está, numa hipotética ida para uma equipa de outro calibre.  O meu pequeno namoradeiro que tem de ter sempre uma namorada e a quem já pedi para ter juizo mazé , que "não quero ser avó, ouviste?" O meu pequena burguês, que gosta de comidas caras e finas e de conforto e que já me pediu para não o tratar assim porque se sente ofendido. O meu pequeno rapaz bem resolvido que não faz fretes por ninguém,  que diz demasiadas vezes o que pensa e a quem faltam filtros de convivê ncia social. O meu pequeno sigma boy, como se auto intitula, que não sorri para muitas pessoas, só para aqueles de quem gosta muito. Se nunca vos sorriu ou se nunca se riu convosco, já sabem...

Bingo neurótico

Janeiro sem fim à vista, subida da renda de casa, dinheiro a escassear na conta e o raio do mês que não chega ao fim para lhe dar algum oxigénio, céu cinzento, trânsito difícil, aproximação perigosa ao limite de quilos estabelecidos no dia 31/12, pés gelados, cabelo em dia não, humidade que não ajuda o cabelo, que acordou com vida própria, como disse anteriormente,  três borbulhas na bochecha, menstruação,  espera demasiado longa para levantar o passaporte do mais velho, que não tendo ainda 18 anos, não o pode levantar, coitadinho, almoço nheca nheca,  salas de aula frias, roupa que não seca, cesto da roupa suja cheiíssimo, filhos adolescentes que dão respostas tortas e que finges não ouvir para não estragar o jantar, que, na verdade, foi estragado e a escassez do vinho que só deu para um copito ao jantar. 

Quando é que sabes que não vais para nova?

 Quando o teu mais velho sai de casa para o Bairro Alto às 23h45 e lhe dizes, de repente, quase sem respirar: -  Ai filho que vais para a rua à hora que deves ir para a cama! Podia ter dito também " Ai filho leva um casquinho que te constipas!", mas achei que proferir duas afirmações desse calibre de seguida era too much...