A minha avó faz hoje 91 anos. Fui ter com ela. Entrei no quarto com um bolo (travesseiro) e uma vela, a cantar-lhe os parabéns. Ela vê mal, bastante mal. Mas reconheceu-me quando me aproximei e disse apenas "oh, a minha Tella" e senti todo o carinho e amor num simples determinante possessivo. Minha querida avó, digo eu também agora, com a mesa carga afetiva. A minha avó, que não sabe dizer "amo-te", diz "minha" e é quanto basta. A minha avó, a quem eu digo "gosto tanto de ti" e que fica envergonhada e ri-se muito. Hoje, mais em baixo por causa de uma queda, disse-me qualquer coisa como "tu dizes sempre que chego aos 100, mas não, não chego." Mas chega, chega e vai ser uma festa, como ela própria me disse há tempos.